O ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO DE PERNAMBUCO (IDEPE): INFLUÊNCIAS DA GLOBALIZAÇÃO NA AVALIAÇÃO EDUCACIONAL Fonte de financiamento: CNPq e CAPES
Resumo: Esse artigo versa sobre o Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE) criado em 2008. Tal indicador é um reflexo de uma cultura global de avaliação, onde há influências de agendas internacionais e nacionais para a formulação e implementação de políticas locais. Desse modo, esse artigo objetivou analisar as influências da política de avaliação educacional internacional e nacional para a consolidação do IDEPE. Esse estudo fez uso de documentos oficiais sobre o IDEPE e estes foram analisados a partir da proposta de Análise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO). Constatou-se que, um dos objetivos implícitos na proposta do IDEPE, é atender uma agenda global de avaliação.
Palavras-chave: Globalização; Avaliação Educacional; Indicadores de Desempenho.
INTRODUÇÃO
Devido ao desempenho não satisfatório de Pernambuco no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) no ano de 2005 e visando melhorar a qualidade da educação no estado, o ex-governador Eduardo Campos criou, em 2008, o Índice de Desenvolvimento de Educação de Pernambuco (IDEPE). Tal indicador está inserido na política de avaliação educacional que buscava modificar os rumos da educação. Esta política, por sua vez, faz parte do Programa de Modernização da Gestão Pública – Metas para a Educação (PMPG-ME), que, no campo educativo, articula avaliação educacional, metas para as escolas e bônus do desempenho educacional para os profissionais da educação. (PERNAMBUCO, 2008a).
Para compreendermos o movimento de surgimento desse tipo de política é preciso entender o modelo de sociedade atual, perceber o papel do Estado e assim identificar as influências do Estado nas políticas, nos programas e nas avaliações educacionais, bem como nos atores/setores ou forças econômicas que atuam sobre ele. O Estado estaria passando por uma reestruturação e esse pode assumir vários papéis, que seriam: avaliador, competitivo, gerencial (LINGARD, 2004).
Por outro lado, é possível afirmar que há uma cultura global em ação que envolve a aplicação de avaliações em larga escala (AFONSO, 2003), onde as organizações mundiais estipulam padrões internacionais a serem alcançados. Esse movimento global atinge nações e suas particularidades.
O centro do debate nesse tipo de política se volta para um processo de monitoramento do desempenho dos estudantes em diversos sistemas educacionais em escala internacional e nacional. Podemos citar como exemplo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), respectivamente. Ou, como propõe o estado de Pernambuco, a possiblidade de um índice estadual (IDEPE). Assim, a discussão sobre as avaliações educacionais em larga escala está se ampliando. E mais que isso: as avaliações em larga escala vêm se constituindo cada vez mais em políticas públicas para educação básica.
A partir da explanação acima empreendida, e tomando leituras realizadas sobre os documentos que embasam essa política local em Pernambuco (Nota Técnica – Avaliação das Escolas Estaduais e o Bônus de Desempenho – BDE, e o PMGP), chegamos à seguinte inquietação: Quais as influências da política internacional e nacional de avaliação educacional para a implementação e consolidação do indicador de Pernambuco, o IDEPE? Diante disso, esse estudo teve como objetivo geral analisar as influências da política de avaliação educacional internacional e nacional para a consolidação do IDEPE.
Esse estudo se trata de uma pesquisa qualitativa, já que não tivemos a intenção de quantificar os dados, mas ter contato direto com os documentos e entender o fenômeno. Assim, realizamos uma análise documental do Programa de Modernização da Gestão Pública – Metas para Educação (PERNAMBUCO, 2008a), e da Nota Técnica sobre a avaliação das escolas estaduais e o Bônus de Desempenho Educacional – BDE (PERNAMBUCO, 2008b). O tratamento dos dados se deu a partir da proposta tridimensional de análise de discurso (análise textual, prática discursiva e prática social) de Norman Fairchloug (2001), a Análise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO).
A GLOBALIZAÇÃO E SUAS INFLUÊNCIAS
A definição de globalização não mais se restringe em acordos econômicos, mas abrange as questões políticas, sociais e culturais (SANTOS, 1995; DALE, 2004). Em virtude disso, faz-se presente as trocas/empréstimos das políticas internacionais que refletem nas ações e decisões locais.
Para Santos (2002) há dificuldades em definir o que seria globalização, mas esse autor afirma que ela se dá de forma plural, ou seja, tal autor refere-se a globalizações que tem seus interesses e intencionalidades tanto do local para o global, quanto do global para o local; assim como, se apresenta com múltiplas formações e interferências.
As influências da globalização são relevantes para os rumos, as (re)formulações e implementações que políticas locais, podendo ser ressignificadas ou não. No caso da educação, podemos dizer que há uma tentativa de padronização da educação que atenda a um sistema capitalista universal, à exemplo dos indicadores de desempenho e os testes padronizados. Para Dale (2004), essa unificação pode ser considerada um problema, haja vista que o que está em jogo é seguir as referências dos "padrões mundiais", "padrão educacional correcto" "padrões dominantes de propriedade educacional".
Nessa tentativa de unificação, é preciso ressaltar que faz parte do processo de globalização as ressignificações e as recontextualizações, tendo em vista as características históricas e o modelo de sociedade (AZEVEDO, 2004). No entanto, é preciso considerar a tendência para a "homologia, isomorfismo, convergência, padronização, homogeneidade, similitude" (DALE, 2004, p. 442) da educação repercutindo nos múltiplos espaços sociais, apesar das diferenças. Na educação isso repercute nas políticas e nos programas educacionais que visam atender e se articular com a agenda global de educação.
Um exemplo da influência dessa cultura global pode ser percebido a partir das avaliações em larga escala, onde as organizações internacionais elaboram, estipulam metas e avaliam o desempenho dos estudantes a nível global (AFONSO, 2003). Tal prática vem sendo recontextualizada em nível local, pois tantos países, como o Brasil, bem como os seus estados, vem adotando e colocando em prática o seu próprio sistema de avaliação.
De acordo com Afonso (2003), é possível relacionar esse tipo de política com o movimento de globalização, pois Estados-nação adotam e a reproduzem um modelo de política comum, como, por exemplo, os testes padronizados. Assim, afirmamos que as convergências e as transferências das políticas globais influenciam as locais, visando, desse modo, atender as demandas em torno de indicadores globais de desempenho.
INDICADORES DE DESEMPENHO: CONCEITOS E FINALIDADES
Nas últimas décadas do século XX houve o crescimento dos indicadores sintéticos, o que permitiu a visibilidade, bem como a relevância de tais indicadores sociais que vêm se fortalecendo/legitimando no Brasil e no mundo. A legitimação desses índices busca estabelecer compreensão de determinado problema social e oferecer auxílio relacionado à formulação e implementação das políticas, bem como a sua avaliação. Tal ação passou a ser entendida e assumida como um compromisso de governos e órgãos, pois são meios para dar e obter respostas dos investimentos realizados, além de identificar o que pode ser melhorado.
Das características dos indicadores denominados sintéticos pode ser citada a generalidade e a superficialidade de como os dados são tratados, no entanto eles contribuem para "uma melhor gestão dos recursos e dos programas sociais" (GUIMARÃES; JANUZZI, 2004, p. 3). Seu papel é apresentar, de forma sintética, dados relevantes para o desenvolvimento da sociedade.
Para Guimarães e Januzzi (2004), faz-se necessário estabelecer quais os comprometimentos e os objetivos dos indicadores a fim de que o mesmo inicie e finalize tendo alguma referência. Essa referência ou modelo surge ou é estabelecido a partir de um posicionamento político ou ideológico.
Minayo (2009) aponta a relevância da escolha de um indicador e para ela a opção deve partir dos objetivos, das necessidades e das finalidades do que se busca alcançar, para isso é preciso ter conhecimento dos pontos/assuntos/elementos abarcados nos indicadores. Assim, para se construir um indicador, deve-se levar em consideração as concepções, os atores, os interesses que estão envolvidos; o contexto o qual está inserido; o modelo de gestão no qual a avaliação está inserida; as questões metodológicas.
Faz-se necessário informar que os indicadores não falam por si só, por isso deve-se levar em consideração os aspectos mencionados anteriormente para que o indicador não seja visto como algo isolado dos projetos sociais ou educacionais, mas está em consonância com o cenário educacional e o modelo de Estado e sociedade vigente. Assim, tomando a questão da educação como exemplo, podemos dizer que os indicadores irão apontar resultados referentes à qualidade da educação, as políticas e o desempenho da educação, dentre outros, sempre levando em consideração o espaço e tempo histórico atual.
Desse modo, o conceito de indicador pode ser diverso, mas existe uma finalidade em comum, ou seja, se constituir em parâmetros quantitativos ou qualitativos relacionados ao objeto que pretende ser avaliado, em caso de avaliação de impacto, por exemplo, os resultados dos investimentos realizados em áreas ou programas. Assim, os indicadores medem ou dão base ao que está posto.
Na educação, a construção dos indicadores de desempenho pode ser um exercício complexo. O mesmo pode vir a trazer para o campo da avaliação educacional a valorização de políticas, programas e projetos os quais não restringem à dimensão teórica, mas aos interesses sociais, a qualidade da educação, bem como o que busca ser avaliado (FERREIRA; TENÓRIO, 2010).
Aqui no Brasil os indicadores educacionais, normalmente, são constituídos por dados do censo escolar e testes de desempenho, realizados nos anos finais de cada etapa da Educação Básica, exceto a Educação Infantil. Os dados do censo escolar contemplam informações mais gerais que envolvem professores, gestores, alunos, assuntos relacionados à infraestrutura e aos recursos.
Esse modelo vai ser adotado em Pernambuco no momento em que esse estado adota em sua política educacional a questão da avaliação por desempenho. É isso que veremos a seguir.
O PROGRAMA DE MODERNIZAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA – METAS PARA A EDUCAÇÃO E O IDEPE: CONTEXTUALIZANDO A POLÍTICA EDUCACIONAL EM PERNAMBUCO
Ao assumir o governo de Pernambuco, Eduardo Campos implantou o Programa de Modernização da Gestão Pública (PMGP), em 2008. Tal Programa é a continuidade de uma proposta da reforma gerencial iniciada no governo anterior e que foi regulamentado pelo Decreto 29.289, de 07 de junho de 2006. Tal medida se deu a partir do resultado insatisfatório do estado no IDEB de 2004, cuja média foi 2,4.
O Programa de Modernização da Gestão Pública apesar de buscar inovações para a educação, no período de 2009-2011, priorizava a infraestrutura das escolas, concursos públicos, avaliação e monitoramento dos resultados (CAVALCANTI, 2011). Silva (2013) também aponta que o programa possui incoerências e definições distintas, pois apesar de ser caracterizado como “novo” a proposta do governo de Eduardo Campos já havia sido elaborada anteriormente, por isso não se trata de uma novidade.
O objetivo PMGP era acompanhar o crescimento econômico e industrial do estado e do país. Assim, acreditava-se que os investimentos na educação contribuiriam para que o estudante se qualificasse para ingressar no mercado de trabalho e, consequentemente, contribuísse para o crescimento da economia do estado, bem como a sua qualidade de vida. É possível perceber, no documento do PMGP, que a educação almejada pelo governo era aquela que, no futuro, desse o retorno financeiro/econômico. É preciso salientar que isso não se restringe a economia, mas nas questões sociais, políticas, culturais, assim como as influências da globalização (LINGARD, 2004) que em particular irão refletir na educação.
Nas palavras introdutórias do ex-governador Eduardo Campos, no documento do Programa, ele menciona os “novos” rumos do estado o qual teria que acompanhar o crescimento do país. Nesse mesmo discurso, ele faz comparações com gestões anteriores incutindo a esperança de que o Brasil retornaria a crescer, pois havia passado por anos de estagnação. Isso pode ser percebido quando ele afirmou que
O Brasil passa por um momento importante da sua história. Depois de anos de estagnação, o país volta a experimentar um ciclo de crescimento que trabalhamos para que seja sustentável e inclusivo. O Nordeste, particularmente Pernambuco, também tem vivenciado avanços importantes. A economia pernambucana tem acompanhado o crescimento nacional, sendo o estado do Nordeste com maior participação no PAC- Programa de Aceleração do Crescimento. Investimentos como a Refinaria de Petróleo, o Estaleiro Atlântico Sul, a Fábrica da Perdigão e Sadia são bastante representativos e significantes para a nossa economia (PERNAMBUCO, 2008a, p. 3).
Nesta fala o ex-governador faz relações do cenário nacional e como isso influenciará o estado de Pernambuco, ou seja, ele parte de uma análise do macro para em seguida pontuar as questões locais, onde o primeiro influencia o crescimento do segundo. No entanto, em sua fala, fica claro que, independente dos investimentos do Governo Federal, Pernambuco tem condições de “crescer”. Assim, na citação acima, há uma relação entre o macro e o micro, bem como os empréstimos das políticas comuns na atualidade, como afirmam Ball (2001) e Santos (2001).
De acordo com o documento do Programa “É com gente qualificada que conseguimos superar taxas de desemprego e melhorar os indicadores sociais do nosso Estado e, consequentemente, a qualidade de vida dos pernambucanos” (PERNAMBUCO, 2008a, p. 3).
O Programa possuía parceria com empresas privadas: Movimento Brasil Competitivo e o Instituto Nacional de Desenvolvimento. Estas tem como foco um trabalho para a criação e execução de programas voltados para a melhoria da qualidade educacional a partir da competitividade e produtividade no setor público. Faz parte do perfil dessas duas empresas o trabalho que visam a medição de desempenho, a meritocracia e incentivos. Desse modo, é possível perceber o caráter empresarial na educação, o que pode ser visto quando Harvey (1993) trata os interesses globais acerca das divisões monetárias e dos interesses dos lucros e capital mudando, desse modo, as dinâmicas existentes nas instituições.
A partir da análise do PMGP percebemos a tentativa de manter as particularidades do que pretende se alcançar no estado, levando em consideração o crescimento econômico, dentre outras situações já mencionadas. No entanto, é de considerar as influências das políticas educacionais globais que estão inseridas na proposta do Programa. Isso pode ser percebido a partir das “trocas”/ “empréstimos” dos modelos de avaliação internacional, como, por exemplo, a inserção de seguir o modelo do Programa Internacional de Avaliação do Estudante (PISA), e do Índice Desenvolvimento da Educação Básica, para a criação do Índice de Desenvolvimento de Pernambuco.
A proposta do governo era que até o ano de 2011 o estado se tornasse modelo nacional e uma política de Estado, pois com a implementação do Programa seria possível ter uma educação de qualidade, a valorização do professor e a correção de fluxo escolar. O documento do Programa de Modernização da Gestão Pública – Metas para a Educação aponta para a qualidade da educação e na correção de fluxo, e valorização do professor. Assim, tudo isso seria alcançado a partir das propostas do PMGP, que seriam:
1.objetivos educacionais e metas claras por escolas (Termo de compromisso- IDEPE) ; 2. Sistema próprio de avaliação (SAEPE); 3. Sistema de incentivos para as escolas que alcançam as metas estabelecidas (Bônus); e o Sistema de monitoramento de indicadores de processos e de resultados (Gestão Nota 10) (SILVA, 2013, p. 110).
O secretário de educação do Estado de Pernambuco, na época em que o documento foi criado, também tece considerações sobre a importância do Programa, bem como os índices de desenvolvimento da educação, principalmente com a média atingida no IDEB em 2005. Ou seja, há uma troca entre o micro e o macro nos empréstimos da política (SANTOS, 2001; BALL, 2001), além de aprofundar resultados, através do IDEPE, que até então passavam despercebidos pelo IDEB.
No discurso do ex-secretário de educação, Danilo Cabral, fica claro o tom empresarial que a “nova” proposta pretende colocar em prática nas escolas, inclusive menciona a política de metas e resultados.
Esse princípio do Programa de Modernização da Gestão Pública é o meio mais eficaz para o Estado alcançar os objetivos desejados, definindo para cada escola metas para serem cumpridas de forma que a unidade evolua em relação a ela mesma (PERNAMBUCO, 2008a, p. 5).
É notório em sua fala as expressões que remetem a lógica empresarial/gerencial. Sobre isso, Bobbio (1987) corrobora quando afirma que o Estado é regulador traz nele questões relacionadas ao mercado, as reformas políticas e a globalização, além, como afirma Barroso (2005) faz parte a parte burocrática e se faz presente os termos eficiência e eficácia.
Dentro do Programa há a proposta do Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE) que segue a mesma lógica do IDEB, em que a sua média é calculada a partir do Sistema de Avaliação da Educação Básica de Pernambuco (SAEPE) e o fluxo escolar. Esta avaliação, juntamente com os dados do fluxo de alunos e dados do censo escolar, compõe o Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE).
O PMGP, cujo recorte aponta metas para a educação, deixa claro que o seu foco são os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco (IDEPE). Acredita-se que esses resultados serão alcançados à medida que as taxas de analfabetismo, repetência e evasão sejam minimizadas. Desse modo, Ball (2001) afirma que no “novo paradigma de gestão” a avaliação assume o papel regulador, além de dar retorno aos investimentos realizados.
Diante disso, as análises das influências das políticas internacionais e nacionais contribuíram para entender a lógica do Indicador Desenvolvimento da Educação de Pernambuco, enquanto uma das ações propostas pelo Programa de Modernização da Gestão Pública – Metas para a Educação.
A partir da leitura é notório a influência dos indicadores internacionais e nacionais para a construção dessa “nova” política proposta pelo governo, bem como balizador de outras políticas educacionais. Desse modo, se faz presente para a construção de uma política local outros textos e discursos que influenciam e legitimam a proposta internacional, permitindo que Pernambuco faça parte dos debates e dos modelos presentes das agendas educacionais globais.
O IDEPE: ENTENDENDO AS INFLUÊNCIAS INTERNACIONAIS E NACIONAIS
Os empréstimos/trocas, na criação de indicadores de desempenho, ocorrem devido a busca da melhoria da qualidade educacional e dos parâmetros estipulados e serem alcançados (OLIVEIRA, 2011). Isso pode ser percebido quando o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) serviu como influência para formulação do indicador de desempenho nacional, o IDEB, e este contribuiu para a construção e implementação do IDEPE.
Como já foi mencionado, o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deparado com o resultado insatisfatório do estado (nota 2,4 do IDEB em 2005) criou como medida de dar “novos” rumos a educação o PMGP. Tal programa é um compilado de ações que apresentam no seu discurso o objetivo de melhorar a qualidade da educação. Uma dessas medidas foi a implementação de um indicador de desempenho educacional do estado, o IDEPE, este foi criado com a mesma lógica do IDEB, onde as médias das escolas são calculadas a partir do cruzamento dos dados do Sistema de Avaliação de Pernambuco (SAEPE) e o fluxo escolar (calculado a partir do Censo Escolar).
A proposta do IDEPE é de “dialogar com a escola, fornecendo um diagnóstico de sua qualidade, apontando os pontos em que precisa melhorar e sinalizando na evolução, ano a ano” (PERNAMBUCO, 2008a, p. 11). E, de acordo com o documento da Nota Técnica, a avaliação educacional no estado segue a lógica dos cálculos do IDEB, além de buscar alcançar em 2022 uma qualidade da educação igual aos dos países que participam do PISA. Isso pode ser percebido no trecho abaixo.
O cálculo do IDEPE acompanha os procedimentos estabelecidos pelo Ministério da Educação para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), cujo objetivo é o de que, em 2022, bicentenário da nossa independência, a qualidade da educação do Brasil seja comparável à dos países desenvolvidos hoje (PERNAMBUCO, 2008b, s/p).
Tal pensamento vem ressaltar a ideia de fortalecer a cultura de avaliação e as agendas globais (DALE, 2004; AFONSO, 2003) e, permitir uma convergência e a complementação entre os indicadores de desempenho. Esses empréstimos que se dão entre as políticas, programas ou projetos ocorrem devido ao processo de globalização que ultrapassam as barreiras geográficas (SANTOS, 2001, 2002; BALL, 2001).
Nos documentos que norteiam o IDEPE é notório a proposta de complementação entre os resultados dos indicadores, tendo em vista promover a qualidade educacional, (re)formulação das políticas, programas ou projetos. Assim, há, nos documentos, a influência de outros textos/discursos, bem como práticas discursivas que são distribuídos e consumidos, promovendo uma hegemonia (FAIRCLOUGH, 2001), nesse caso, seria um pensamento e uma prática hegemônica voltada para os modelos e a padronização dos indicadores de desempenho.
O IDEPE, ao contrário do indicador nacional, divulga anualmente, os resultados do desempenho dos estudantes (através de testes padronizados) que estão cursando os anos finais de cada etapa de ensino da rede estadual e do fluxo escolar (retenção, evasão e aprovação).
Assim como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), a rede estadual, em Pernambuco, tem o seu próprio sistema de avaliação, o Sistema de Avaliação da Educação Básica de Pernambuco (SAEPE) que também teve influências do modelo da política nacional para a sua implementação. Embora siga o mesmo padrão de avaliações envolvendo conhecimento de Língua Portuguesa e Matemática, o SAEPE é realizado anualmente.
O SAEPE – Sistema de Avaliação Educacional de Pernambuco – passa a ser anual. As avaliações serão realizadas no final de cada ano letivo, em todas as escolas estaduais, na 4° série, 8° série e 3° ano do Ensino Médio, utilizando a mesma escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB (PERNAMBUCO, 2008a, p.10).
O indicador de desempenho de Pernambuco está inserido numa política educacional que adota a política das metas, onde estas são traçadas metas de desempenho para cada escola a partir do resultado alcançado e as escolas tem o período de um ano para trabalhar, tomar decisões e colocar em prática ações que visem atingir a meta.
Essa política é complementada pela existência do Termo de Compromisso e pelo Bônus de Desempenho Educacional (BDE). O primeiro trata de um documento assinado pelo gestor e o gestor adjunto da escola, na Secretaria de Educação, ambos se responsabilizando em cumprir as metas estabelecidas a partir do resultado do IDEPE. Tais sujeitos, quando assinam, devem elaborar um “Plano Ação” que busque além de elevar a média da escola no indicador estadual, dar conta dos dados do censo escolar e da matriz curricular.
O discurso revelado nos documentos que tratam da implementação do IDEPE acredita que tal medida contribui para uma maior participação dos sujeitos no sistema educacional (PERNAMBUCO, 2008a). No entanto, podemos dizer que tal medida pode ser interpretada como a transferência de responsabilidade do Estado para aqueles que estão na escola, então se a escola não atende o que está proposto no Termo de Compromisso, a culpa será dos gestores que não conseguiram atingir as metas.
Já o BDE é destinado às escolas que conseguiram atingir as metas proposta no Termo de Compromisso, visando a melhoria da qualidade da educação. Ele é visto como um incentivo ou premiação financeira e é calculado de acordo com a média obtida no IDEPE. O que reforça a ideia de responsabilização da escola e dos profissionais da educação que nela atuam pelo desempenho escolar dos alunos. Como sabemos, a responsabilização é uma das faces componentes das políticas de avaliação educacional em ação em diversas partes do mundo e do Brasil. E mais: vem se fortalecendo ao longo dos anos, já que os resultados divulgados a partir dos indicadores sintéticos tendem a reforçar a ideia de que esse processo de responsabilização é justo e deve ser ampliado cada vez mais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo de globalização é peça fundamental no processo de convergências entre as políticas. Assim, não há apenas uma forma de explicar as decisões tomadas para a formulação e a implementação, pois os discursos presentes influenciam e são influenciados.
Analisando a política de avaliação educacional em Pernambuco, percebemos que os documentos são fundamentados em outros discursos e práticas, promovendo uma intertextualidade que transita do contexto internacional para o local. Isso visa atender a agenda global presente na localidade que sofre uma ressignificação e uma recontextualização.
As organizações internacionais, como é o caso da OCDE, acabam influenciando e norteiam as políticas educacionais transnacionais, a exemplo do PISA. Assim, ele atua como parâmetro tanto para questões relacionadas a avaliação educacional quanto a qualidade da educação. Tais discursos acabam repercutindo do macro para o micro o que leva a uma padronização onde os sistemas de avalição educacional convergem e se adaptam a uma cultura que tende a perpassar todo o globo.
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