GESTÃO CULTURAL EM ESPAÇO ACADÊMICO: O DIÁLOGO INTERCULTURAL NA GALERIA DE ARTE LA SALLE

Resumo: Compreendendo o exercício do gestor cultural como uma atividade complexa, marcada pelo diálogo permanente com a diversidade de culturas o presente estudo objetiva analisar estratégias no espaço acadêmico, através da Galeria de Arte, para a compreensão das  manifestações artísticas e culturais, entendendo-as como processos dinâmicos, amplos, ambíguos e sujeitos a significações diversas. Os resultados apontam para a necessidade da ação cultural como prática educativa de  percepção e interconexão com as diferentes expressões.

Palavras-chave: Cultura. Gestão. Arte. Educação.

ASPECTOS DA GESTÃO CULTURAL

Na visão tradicional do campo administrativo, gerir significa, em síntese,organizar, por meio de instrumentos e técnicas adequados, os recursos financeiros e materiais da organização e até mesmo as pessoas que as compõem, buscando atingir determinados objetivos. Para Fayol (1989), o ato de administrar pode ser decomposto em cinco atividades: planejar (estabelecer os objetivos da empresa, especificando a forma como serão alcançados), organizar (coordenar todos os recursos da empresa, sejam humanos, financeiros ou materiais, alocando-os da melhor forma de acordo com o planejamento estabelecido), comandar (dirigir o pessoal), coordenar (ligar, unir, harmonizar todos os atos e todos os esforços coletivos facilitando o trabalho e o sucesso), e, controlar (verificar se todas as atividades e resultados ocorrem em conformidade com o plano adotado, as instruções transmitidas e os princípios estabelecidos) (FAYOL, 1989, p.26).

Quando pensamos a gestão no âmbito cultural, percebemos que sua estrutura coorporativa está fundamentada nos conceitos gerenciais emprestados do campo administrativo. Esta dimensão empresarial da gestão é pautada em três “Es”: eficiência, eficácia e efetividade, de forma que ser eficiente significa desempenhar as tarefas de maneira bem-feita, ser eficaz, é alcançar os objetivos previstos, e, ser efetivo, consiste em traçar os objetivos certos, segundo perspectivas compartilhadas (RODRIGUES, 2012, p.144). Nesse sentido, notamos que não podemos reduzir a função do gestor ao exercício de “comandar”, “dar ordens” ou “determinar que as coisas aconteçam” já que a raiz etimológica do vocábulo nos remete aos verbos gerir, manejar, ou seja, conduzir o processo através de instrumentos, mecanismos e procedimentos adequados para obter um resultado satisfatório. Na cartilha intitulada “Gestão Cultural” produzida pelo Governo da Bahia em setembro de 2013, podemos destacar uma citação de Alfons Martinell (2003) que esclarece essa questão:

No campo específico da cultura gerir significa, uma sensibilidade de compreensão, análises e respeito dos processos sociais. Capacidade de entender os processos criativos e estabelecer relações de cooperação com o mundo artístico e suas diversidades expressivas. A gestão cultural implica uma valorização dos intangíveis e assumir a gestão do opinável e subjetivo. A gestão da cultura há de encontrar os referentes próprios de sua ação adaptando-se a suas particularidades e encontrar uma forma de evidenciar, de forma muito diferente, os critérios de eficácia, eficiência e avaliação (MARTINELL, 2003, p.7 apud CUNHA, 2013, p. 16).

Historicamente, o termo gestão cultural começou a ser utilizado nos países ibero-americanos em consonância com as transformações ocorridas no campo da cultura a partir da segunda metade da década de 1980. Em estudo publicado pela Organización de los Estados Iberoamericanos (OEI), os autores Zubíria, Trujillo e Tabares (2008) defendem que o uso da expressão vincula-se a quatro grandes transformações contemporâneas da dimensão cultural: a extensão do conceito de cultura; a necessidade de políticas culturais que gerenciem âmbitos que vão além da cultura artística, da cultura tradicional e do patrimônio; a crise das noções de política e desenvolvimento a partir da década de 1970; e o reconhecimento da importância das inter-relações entre economia e cultura. No cenário brasileiro, Cunha (2013) esclarece que:

A partir da década de 1980, que coincide com grandes mudanças na história cultural brasileira, no que diz respeito à política pública, articuladas, ao mesmo tempo, com a conjuntura mundial, que atrela a cultura a uma dimensão correspondente ao desenvolvimento social, econômico e humano, acelera o processo de institucionalização da cultura. O que significa uma reordenação da sua lógica de funcionamento, configurando uma nova forma de relacionamento entre o setor público, a participação da iniciativa privada e a atuação organizada da sociedade civil (CUNHA, 2013, p. 8).

Esse período foi marcado pela criação de novas instituições públicas de cultura, como diversas secretarias estaduais e municipais, e, sobretudo, no âmbito federal, com a criação do Ministério da Cultura (MINC), em 1985. A seguir, começaram a emergir as legislações de incentivo fiscal para financiamento do setor, ampliou a participação da iniciativa privada, e novos atores começaram a surgiu, estabelecendo uma reestruturação do mercado cultural, tornando-o mais complexo, e, consequentemente, passando a exigir profissionais mais bem preparados.

Posteriormente, em meados de 1999, o Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA-SP publicou um documento intitulado “Perfil do Administrador Cultural”, que expõe os conhecimentos e as ferramentas que o profissional da área precisa dominar. Produzido por um grupo de vinte pessoas envolvidas diretamente com projetos culturais, o documento reconhece a importância dos conceitos administrativos para o campo cultural e busca identificar todas as áreas que a cultura atua como história, sociologia, filosofia, psicologia, turismo, museologia, entre outras.

De acordo com Rodrigues (2009):

Para melhor conceituarmos o campo da gestão cultural, podemos articulá-lo à idéia de mediação de processos de produções material e imaterial de bens culturais e de mediação de agentes sociais os mais diversos. Mediação que busca estimular os processos de criação e fruição de bens culturais, assim como estimular as práticas de coesão social e de sociabilidade (RODRIGUES, 2009, p.77).

Partindo deste pressuposto, cabe atentar que gerir a cultura não é uma atividade meramente administrativa. Embora suas raízes estejam sim imbricadas em conceitos administrativos, como planejamento, organização, coordenação, entre outras, o gestor cultural precisa ter sensibilidade para lidar com questões de ordem mais subjetivas e abstratas, intrínsecas ao mundo da arte e da cultura. Convém elucidar que estamos entendendo o conceito de cultura num sentido antropológico, que remete às maneiras de ser, de pensar e de agir de um determinado grupo social, que na concepção de Edward Tylor, o primeiro a definir o conceito de cultura em 1871, "[...] é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade" (TYLOR, 1871 apud LARAIA, 2001, p.25).

Dentro do contexto administrativo, uma empresa tem a responsabilidade de atender às necessidades de seus clientes, e, de acordo com KWASNICKA (1981), com o objetivo principal de produzir mais e com maior eficiência para que seu lucro seja maior (Kwasnicka, 1981, p.21). Ao refletirmos sobre esta afirmação, podemos entender que na esfera organizacional, grosso modo, os resultados esperados estão pautados na obtenção de lucros, já no que concerne ao âmbito cultural, muitas vezes, esses resultados não são mensuráveis, não há um retorno de capital financeiro direto, ou seja, o lucro nem sempre é medido em moedas, mas em questões subjetivas, intangíveis e simbólicas, como, por exemplo, formação de platéia, direito de acesso á cultura, entre outros. E mesmo quando agrega um valor real, econômico, é, sobretudo, como “bem e serviço”, e não apenas como “mercadoria-tipo”. Isso faz com que o gestor cultural tenha que pensar amplamente, exigindo sensibilidade para lidar com as questões específicas, onde cada evento, cada projeto ou cada espaço cultural se relaciona ao sistema cultural no qual se insere, sofrendo as influências da cultura política, da tradição, da diversidade, do multiculturalismo, bem como das condições sociais e educacionais da população. Assim como as situações mudam, os princípios de gestão precisam mudar também para enfrentar as novas condições. Rodrigues (2009) complementa essa idéia ao estabelecer que:

 [...] pode-se dizer que a gestão cultural articula planejamento, operacionalização e mediação. Planejamento de eventos, de programas, de ações, de processos, e de políticas em cultura. Operacionalização técnica, financeira, física e humana. Mediação de agentes diversos: governamentais, não governamentais e comunitários; empresariais, cooperativos ou informais; produtores, viabilizadores e fruidores; tudo isso segundo perspectivas temporais que vão do curto ao longo prazo (RODRIGUES, 2009, P.78).

Em outras palavras, o gestor precisa estar atento ao cenário cultural, identificando demandas, potencialidades, desejos e fragilidades locais, assumindo, dessa forma, um papel de mediador que opera entre diversos atores. Cunha (2013) sintetiza a discussão ao afirmar que:

A gestão cultural é uma profissão complexa que estabelece um compromisso com a realidade de seu contexto sociocultural, político e econômico e, para tanto, é preciso a consciência de que gerenciar e planejar não significa, em momento algum, intervir na liberdade de expressão individual ou de grupos artísticos, ao contrário, significa sintonizar ideias, compreender as realidades no entorno e no mundo, dimensionar os recursos financeiros e humanos para tornar mais eficiente e eficaz a ação pretendida (CUNHA, 2013, p. 17).

Após as elucidações anteriores, podemos afirmar que a atividade de gerir no campo da cultura exige que o profissional conheça as estratégias da cadeia produtiva sobre a qual ele vai atuar, e, sobretudo, tenha sensibilidade e criatividade para entender as manifestações artísticas e culturais, entendendo-as como processos dinâmicos, amplos, ambíguos e sujeitos a significações diversas.

GESTÃO DE ESPAÇOS CULTURAIS

Dentre as várias vertentes da gestão cultural existe uma que está atrelada aos espaços culturais, lugares ligados à subjetividade, à memória, à percepção e ao conhecimento, que abrigam práticas artísticas e culturais, seus usos e disseminações. Segundo Coelho (1997): “a expressão ‘espaço cultural’ é usada, de modo genérico, para designar qualquer lugar destinado à promoção da cultura” (COELHO, 1997, p.167).

Cabe fazer um adendo e esclarecer que espaço, na concepção de Michael de Certeau (1990), é entendido como o “lugar praticado” (DE CERTEAU, 1990, p.173), aquele que precisa ser vivenciado, ou seja, os lugares só são elevados à categoria de espaço, quando apropriado pelos sujeitos. Nesse sentido, ao falar de gestão de um espaço cultural devemos reconhecer o protagonismo do público. Pois de acordo com Marta Porto (2010):

[...] espaço cultural é um lugar de constituição de experiências, de alargamento do tempo-espaço do sujeito a partir do contato com situações, com obras, com atividades que afetam os seus sentidos, promovendo desejos, fantasias, sonhos, apreensão de conhecimentos ou, simplesmente, emoção (PORTO, 2010, p.14).

Uma das grandes funções do gestor é pensar a programação do espaço baseada na realidade cultural local, levando em consideração o dinamismo do público e as diversas possibilidades de linguagens. Avelar (2014) elucida que: “[...] a grande responsabilidade de um gestor que se coloque à frente de uma casa de cultura é torná-la um organismo vivo, pulsante, aberto à reflexão sobre o mundo contemporâneo e vetor de transformações na realidade local” (AVELAR, 2014, p. 459).

É de suma importância que o gestor conheça a fundo o equipamento, possibilitando assim identificar suas particularidades para poder explorar suas potencialidades, e dessa forma contribuir para uma dinamização do espaço, capaz de acolher os seus diversos públicos. Como Antonio Carlos Sartini (2010) ressalta:

Equipamentos Culturais trabalham com seres humanos, com seus sonhos, desejos, aspirações e, principalmente, com sentimentos e imaginação. Assim, a humanização nas relações existentes em um Espaço Cultural, sejam as relações com o público interno, externo ou virtual, é absolutamente decisiva para o sucesso ou não de uma instituição (SARTINI, 2010, p.113).

Dessa forma, ao explorar espaços  que eduquem o olhar e os sentidos, torna-se necessário contextualizar o espaço da Galeria de Arte La Salle inserida no ambiente acadêmico como forma  de oportunizar as diferentes culturas e linguagens, como veremos a seguir.

A GESTÃO DA GALERIA DE ARTE NUM ESPAÇO UNIVERSITÁRIO

Os elementos do ambiente da Galeria de Arte, incorporada ao Núcleo de Arte e Cultura do Centro Universitário La Salle constituem objetos de aprendizagem e pesquisa que se descortinam mais ampla e profundamente à luz da visão artística e das inspirações imagéticas. Por intermédio da arte, da imaginação e da criatividade, pode-se reconstruir o real e, consequentemente, crenças, ideias, expectativas, o que auxilia na construção do conhecimento. Assim, a relação entre arte, cultura,  imaginação, sensibilidade e conhecimento implica os conceitos de arte e expressões imaginárias como vetores significativos de descobertas que aproximam sujeito e objeto do conhecimento com experiências estéticas e sensíveis do “ir e vir” no caminho do corredor cultural, Galeria de Arte.

A emergência do ser poético e da consciência sensível não é, a priori, anterior à experiência estética; ambos – ser e consciência – fazem parte dessa experiência, que associa estranhamento e indagações, percepções sensíveis e imaginação criadora, realidade e transcendência.

A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo que ele mesmo é fazedor. (FREIRE, 2006, p.51).

Nas artes visuais, a presença imediata do visível abre acesso ao invisível. Esse acesso, identificado como “percepção estética”, é comparável à leitura de textos, porém faz-se por meio de símbolos específicos. “A percepção estética é comparável a ler um texto, que é uma imagem ou um conjunto de imagens” (WILDER, 2009, p.19). A compreensão das linguagens visuais precisa ser aprendida da mesma forma que a linguagem escrita, musical e numérica. Desenvolver a capacidade de percepção estética de um sujeito significa abrir-lhe um novo canal de comunicação e aprendizado, um novo aspecto do mundo. Aprender a reconhecer diferentes universos simbólicos subjacentes a diferentes culturas favorecerá um conhecimento mais profundo do outro, que, por sua vez, lança novos olhares sobre nós mesmos. A apreciação sistemática de obras/imagens é, pois, um exercício de aprendizado que possibilita a aquisição de um novo meio de conhecer o mundo. E, como a maioria dos aprendizados, necessita de reiteração.

O acadêmico, no ato de ir e vir pela Galeria de Arte, é envolvido nas estratégias de compreensão e construção de conhecimento, prática que pode ser considerada uma iniciativa na qual a Educação tem por princípio a reconstrução contínua da experiência, como afirma Dewey, (2004, p. 75):

A diferença essencial da ideia de educação como uma reconstrução contínua... Significa que a experiência como um processo ativo ocupa tempo e que seu último período completa sua parte anterior; traz à luz... que a experiência como um todo cria uma inclinação ou disposição às coisas que possuem esse sentido. Toda experiência ou atividade contínua deste gênero é educativa e toda educação consiste em ter tais experiências.

As bases epistemológicas fundamentam a proposta de mediação cultural na Galeria de Arte encontram, no pensamento de Freedman (2006, p. 26), vínculos importantes, uma vez que:

A educação nas artes visuais tem lugar no âmbito da cultura visual e, através desta, dentro e fora das escolas, em todos os níveis educativos, através dos objetos, as idéias, as crenças e as práticas que constituem a totalidade da experiência visual humana concebida; dá forma a nosso pensamento sobre o mundo e nos leva a criar novo conhecimento através da forma visual. A arte/educação, em seus entornos institucionais e não-institucionais, se realiza em uma sala de aula de educação infantil ou em uma faculdade, em uma aula de desenho ou como parte de uma unidade de ciências interdisciplinares, ajuda a desenvolver significados ricos através da experiência de vida dentro e fora da escola. Encontramos nas salas de aula, nas galerias dos museus, nos centros cultuais, nas residências, na rua, nos cinemas. A arte/educação informal tem lugar ao largo de nossas vidas cada vez que nos encontramos com a cultura visual e falamos ou discutimos de forma reflexiva sobre ela.

Vivemos em um mundo em que tanto o conhecimento quanto muitas formas de entretenimento são visualmente construídos. Um mundo no qual o que vemos exerce muita influência em nossa capacidade de opinião é mais capaz de despertar a subjetividade e de possibilitar interferências de conhecimento do que aquilo que ouvimos ou lemos. Fala-se, utilizando uma metáfora bélica, que vivemos em um mundo onde as imagens nos bombardeiam  (EISENHAUER, 2006). Por isso, não nos causa estranheza que atualmente se expresse preocupação com o aumento de analfabetos visuais e que surjam vozes clamando pela reestruturação da Escola, dos museus e das universidades, de maneira que, nessas instituições seja possível aprender práticas vinculadas a um novo alfabetismo visual.

O sistema educativo estruturado e obrigatório que caracteriza a educação formal desempenha um papel central na formação integral das crianças e dos jovens, moldando o desenvolvimento para “melhor” e privilegiando os grandes pilares educacionais do saber, saber fazer, saber estar e saber ser (DELORS, 1996). As instituições de ensino procuram garantir e aprofundar a cultura humanística, artística, científica e tecnológica, desenvolver capacidades de expressão e comunicação e a sensibilidade ética e estética e capacidades de inovação e de análise crítica. A instituição acadêmica é, por excelência, o local onde se veicula o conhecimento do mundo.

A educação formal proporcionou ao longo dos séculos, em particular neste último, inúmeras oportunidades de aquisição de conhecimentos e competências acessíveis a todos, bem como a exposição a valores democráticos. Sem ela, a evolução da sociedade teria certamente sido diferente, mesmo que tenha relegado as emoções a um segundo plano. O espaço à emoção em contextos de educação formal pode ser oferecido pela a educação emocional específica ou transversal que, segundo Gottman e DeClaire (apud GOLEMANN, 1997), inclui a compreensão das emoções, o reconhecimento da emoção como uma oportunidade de intimidade e orientação. Mais ainda, a educação afetiva abarca uma série de técnicas relacionadas a ouvir com empatia e legitimar os sentimentos dos alunos, ajudá-los a verbalizar as emoções e ajudar a encontrar soluções para os problemas.

Com o objetivo de oferecer um espaço/tempo repleto de intenções, ainda que inconsciente, como o Núcleo de Arte e Cultura/Galeria de Arte, é incitar as faculdades simbólicas para a busca do profissional integral, cujo pensamento não será comandado pela opinião alheia, muito menos por editoriais de jornais. Seria o início de pensarmos uma educação na qual obter o diploma e alcançar um emprego seria o principal, mas, sim, compreender o que se passa a nossa volta e desenvolver um sentido pessoal do que é a experiência: de olhar para sentir, sentir para perceber e perceber para transformar. Daí resultará a alegria profunda do pensador, como a que experimentaram os discípulos de Sócrates,descrita por Platão em Filebo:

O jovem que bebeu dessa fonte pela primeira vez sente-se tão feliz como se tivesse encontrado um tesouro de sabedoria; fica verdadeiramente extasiado. Entenderá qualquer discurso, reunirá todas as idéias nele contidas transformando numa só, separando-as depois e desmontando-as em pedaços. Primeiro interrogar-se-á a si próprio, depois os outros, interpelará quem se aproximar, novo ou velho, não poupando nem mesmo os pais ou quem esteja disposto a ouvi-lo... (PLATÃO, 2012, p. 35).

O pensamento desse filósofo data de cerca de vinte e quatro séculos, mas um observador contemporâneo não descreveria mais habilmente o que acontece quando, pela primeira vez, se descobre o fluxo da mente na capacidade de perceber, conhecer, imaginar e criar.

As mediações, no processo de fruição, auxiliam a ultrapassar as fronteiras das percepções superficiais. Convoca, não somente as pessoas, mas os corpos em suas inteirezas, complexidades e sociabilidades. Vivenciando técnicas, estratégias e exercícios propostos pelos mecanismos de mediação, que vão muito além da informação, o sujeito, no ir e vir, envolve-se e dedica-se a à apreciação da obra. Nessa relação, ele desenvolve suas potencialidades cognitivas, sensíveis, críticas e estéticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos que a exploração, a descoberta, a experimentação, a interpretação e a expressão de significados constantes nas dinâmicas da produção cultural  em um contexto de educação não formal, abrem portas à riqueza emocional da comunidade acadêmica. O apoio emocional pela participação das atividades pode contribuir para a persecução equilibrada e harmoniosa do desenvolvimento do altruísmo e da moralidade em prol do bem estar comum que constitui uma necessidade humana universal.

A gestão da cultura no espaço acadêmico significa criar meios que promovam a interculturalidade e diálogos entre os diversos gêneros, cargos e funções que compõem o espaço. A agenda diversificada da Galeria de Arte La Salle tem o objetivo de desenvolver a percepção às variadas culturas e linguagens, além de abranger propostas e necessidades da comunidade acadêmica, como núcleo de produção do conhecimento, vivências integradas e indagações constantes que apontam para a inauguração de novos conceitos.

REFERÊNCIAS

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