O COORDENADOR PEDAGÓGICO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: ENTRELAÇANDO SABERES NUMA PERSPECTIVA HUMANIZADORAEste trabalho integra-se ao grupo de pesquisa Políticas públicas e educação: dos fundamentos às relações sócio-política-econômicas, da Universidade do Estado da Bahia - UNEB.
Resumo: Pensar a atuação do coordenador pedagógico e seu papel na formação docente requer considerar as tensões socioculturais de cada época e contexto. O objetivo desta comunicação é analisar a atuação do coordenador pedagógico na formação do professor numa perspectiva humanizadora. O trabalho insere no Eixo 5 - Gestão pedagógica, organização curricular e qualidade da educação e refere-se a uma pesquisa de campo, em andamento, de caráter exploratório, abordagem qualitativa. Teve como amostra coordenadores pedagógicos que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Os resultados indicam que o contexto das escolas demanda do coordenador pedagógico processos formativos subsidiados por princípios dialógicos e humanizadores.
Palavras-chave: Educação; formação docente; coordenação pedagógica.
INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade vivenciamos um contexto marcado por incertezas, crises de paradigmas, que requer dos indivíduos pensamentos e ações diferenciadas. A dinâmica social é marcada por inovações tecnológicas, problemas econômicos, políticos, ambientais e culturais. Nesse cenário, é fundamental que o coordenador pedagógico e os demais profissionais da educação compreendam o seu papel frente aos desafios contemporâneos com vistas à superação da visão fragilizada contida no modelo social vigente baseado, principalmente, na transmissão e deixa em segundo plano a construção do conhecimento.
A temática da coordenação pedagógica e sua relação com a formação do professor tem ganhado centralidade nas políticas públicas educacionais de vários países, inclusive, no Brasil. A atuação do coordenador pedagógico no contexto escolar requer desse profissional tomar consciência do seu papel, considerando as tensões socioculturais de cada época e de cada contexto. Atualmente, o desenvolvimento de processos formativos multidimensionais que contribuam para a melhoria da qualidade de ensino é um dos grandes desafios da educação. Dessa forma, faz-se necessário pensar e planejar a formação do professor “com base nos objetivos da educação e na sociedade”, bem como, por meio da definição clara quanto aos conteúdos formativos relacionados ao ato de ensinar e aprender (ALMEIDA, 2008).
O investimento na formação docente por meio da atuação do coordenador pedagógico num processo de mediação e humanização no lócus escolar, possibilitará a promoção de mudanças na educação e na escola, com autonomia profissional, democratização, troca de saberes e produção de conhecimento. Essa afirmação corresponde a nossa concepção do professor e coordenador pedagógico como seres histórico-culturais, protagonistas de suas histórias de vida e construtores de sua identidade profissional.
Ademais, esse processo complexo e dinâmico de formação ocorre na convivência com o outro, nos espaços relacionais das instituições de educação e fora dela. Sendo assim, adotar uma postura humanizadora nesse contexto favorecerá a partilha de vivências e experiências, bem como a mudanças na configuração do trabalho pedagógico das escolas.
Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho é analisar a atuação do coordenador pedagógico na formação do professor numa perspectiva humanizadora. Está referenciado por uma pesquisa de campo, em andamento, de caráter exploratório, com abordagem qualitativa. O estudo foi desenvolvido com coordenadores pedagógicos que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em escolas públicas da rede de ensino do município de Barreiras, localizado na Região Extremo Oeste da Bahia, Brasil.
A ATUAÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: VIVÊNCIAS E CONSTRUÇÃO DE SABERES NUMA PERSPECTIVA HUMANIZADORA
O contexto social e as atuais politicas educacionais têm promovido significativas mudanças nas esferas governamentais no tocante à construção da qualidade social e de ensino, na efetivação de um modelo educacional votado para a promoção de saberes significativos, produção de conhecimentos e interação social, por meio da valorização humana. Freire (2014, p. 34) concebe a educação como um processo de busca permanente realizada pelo homem enquanto sujeito inacabado, numa estreita relação entre “comunhão e busca”.
Nessa perspectiva, o processo educacional além de promover a aquisição de saberes tem o papel de disseminar princípios e valores, formar para o exercício pleno da cidadania, possibilitar a inclusão social, preservar a diversidade cultural. Pimenta (2010) enfatiza que a educação é um processo de humanização pelo qual os seres humanos são inseridos na sociedade. Assim, o espaço escolar não se restringe apenas aquisição de saberes, conforme ensinamentos de Freire (1996), o ensinar não se limita apenas em transferir conhecimentos, senão também no desenvolvimento da consciência de um ser humano inacabado, sendo o ensinar um meio de compreensão da educação como uma forma de intervir na realidade da pessoa e do mundo.
A escola assume a função social de promover educação com a missão de romper muros e fronteiras, interagindo e intervindo com outros espaços sociais. Nesse contexto, o coordenador pedagógico, deve atuar com base em princípios democráticos e valores humanos com vistas à articulação entre a escola e a comunidade, possibilitando aos estudantes o acesso à educação de qualidade e integral, capaz de garantir o pleno desenvolvimento de suas potencialidades e o exercício pleno da cidadania.
Em consequência disso, a dinâmica organizacional do trabalho pedagógico nas escolas requer dos profissionais que a constituem uma atitude formadora subsidiada por uma concepção de educação como prática social e de escola como espaço e tempo relacional que proporciona aprendizagem e desenvolvimento humano. Nessa perspectiva, a escola é concebida como um contexto rico em peculiaridades relativas a aspectos socioculturais construídos historicamente. Por ser assim, os profissionais que atuam nas escolas responsabilizam-se por um grande desafio: compreender a totalidade do contexto em que estão inseridos para assim, pensar, articular e desenvolver ações pedagógicas significativas para os atores sociais que constituem a instituição no cotidiano.
Visto dessa forma, professores, coordenadores e equipe diretiva comprometem-se, no exercício de suas especificidades, com o caráter de interdependência e conexão dos aspectos que envolvem a educação. É nesse processo complexo de constituição humana que destacamos a atuação do coordenador pedagógico. Isso porque, cabe a este profissional atuar nas várias dimensões que configuram a escola. A esse respeito, corroboramos com Vasconcellos (2008, p.11) ao afirmar que,
Coordenação tem para nós esta acepção ampla de aglutinação de pessoas em torno da busca de sentido para as práticas educativas que, embora ocorrendo em vários espaços e tempos da escola, têm (devem ter) uma profunda articulação. A atividade educativa é essencialmente relacional. Coordenação corresponde ao esforço de caminhar junto, de superar as justaposições, as fragmentações ou a ação desprovida de intencionalidade.
Para além de uma função fiscalizadora ou burocrática, o espaço de trabalho do coordenador pedagógico engloba ações permeadas por dialogicidade, estudo, reflexão e principalmente formação humana. Estes fatores geram questões teórico-práticas que refletem nas ações pedagógicas constituintes das instituições de educação. Sendo assim, ao analisarmos a atuação do coordenador consideramos a complexidade desse contexto bem como as interfaces de suas funções. Além do mais, refletir acerca da coordenação pedagógica é pensar em um espaço configurado por formação profissional, articulação e desenvolvimento de práticas pedagógicas importantes para a constituição da identidade das instituições educativas.
A esse respeito, nossas reflexões se aproximam do que diz Vasconcellos (2008, p. 85), “a esfera de atuação e preocupação da coordenação é muito ampla, (envolve questões de currículo, construção do conhecimento, aprendizagem, relações interpessoais, ética, disciplina, avaliação da aprendizagem, relacionamento com a comunidade, recursos didáticos)”. Em consequência disso, o contexto de atuação do coordenador é marcado por ações educativas que envolvem a docência, gestão, as famílias e alunos em um movimento constante e desafiador de apropriação e partilha de saberes.
Com base nesses pressupostos, faz-se necessário que a formação profissional do coordenador pedagógico contemple os conhecimentos e saberes necessários à atuação qualificada e competente, por meio do estabelecimento de: relações interpessoais com os diversos atores da comunidade escolar; atendimento das especificidades educacionais, sociais, culturais e políticas presentes no contexto escolar e social; articulação do trabalho coletivo e participação reflexiva; ressignificação da gestão pedagógica e das práticas de ensino e promoção de ações formadoras no lócus escolar. Placco e Almeida (2009) enfatizam que a atuação do coordenador pedagógico podem ser categorizadas em três dimensões: (1) articuladora que se constitui na articulação conjunta de um projeto pedagógico democrático e de ações de capacitação para os professores com outras ações na escola; (2) formadora que se configurava no desenvolvimento de processos formativos e a (3) transformadora num contexto complexo, dinâmico e denso de relações que tem como objetivo a transformação da postura do professor por meio da avaliação de suas práticas, da escola e da educação.
Na contemporaneidade, o coordenador pedagógico assume o papel de um dos agentes de transformação da escola, a sua atuação requer constantemente a articulação/relação com os diferentes atores escolares, bem como a mediação da ação pedagógica. Placco (1994) denomina esse movimento de sincronicidade, resultado de um processo dinâmico e crítico que possibilita a compreensão do fenômeno educativo. A esse respeito, Orsolon (2009, p. 20) enfatiza que o planejamento das ações pelo coordenador permite a consciência de sua sincronicidade, visto que resulta na atribuição de “um sentido a seu trabalho (dimensão ética) e destina-lhe uma finalidade (dimensão politica) e, nesse processo de planejamento, explicita seus valores, organiza seus saberes para realizar suas intenções politico-educacionais”.
É importante destacar que, esse movimento provoca novas indagações, sinaliza novas necessidades, construções, transformações e uma nova consciência da ação do coordenador pedagógico com atitudes desencadeadoras de um processo contínuo de mudança. A atuação do coordenador pedagógico na escola possibilitará a mediação pedagógica: “o saber, o saber ser e o saber agir do professor” (ORSOLON, 2009, p. 22). Assim, é imprescindível que o coordenador pedagógico compreenda as dimensões que constituem a sua práxis, estabeleça uma relação humanizadora e dialógica com os professores, incentive práticas inovadoras e desenvolva ações articuladoras voltadas para o trabalho coletivo e o processo de formação continuada do professor.
A promoção da formação continuada do professor na escola é relevante e necessária para atender às necessidades do docente, contribuir para o seu desenvolvimento e autonomia profissional, buscando subsídios que fundamentem a prática pedagógica, a construção de um projeto claro com uma meta estabelecida sobre onde se quer chegar, uma educação para formação de quais cidadãos. Neste sentido, a formação inicial e continuada do professor, a estrutura curricular, a prática educativa, se constituem em um grande desafio que precisa ser (re)organizado, (re)formulado. De acordo com Coité (2011), os processos formativos devem proporcionar meios para a articulação do saber e do saber fazer, necessários à construção de uma educação transformadora e de qualidade.
A ressignificação da formação continuada do professor possibilita (re)pensar o fazer pedagógico, valorizando os processos de humanização a partir de uma prática humanizadora, que busque despertar em nossos educadores/educandos uma postura diferenciada, na qual os vínculos afetivos sejam fortalecidos e valorizados no processo de ensino-aprendizagem. Nessa direção, o coordenador pedagógico deve desenvolver ações mediadoras e humanizadoras com o objetivo de resgatar a esperança na educação, no ensino, nos educandos e em si mesmo, a começar pela humanização das práticas pedagógicas e processos de formação continuada na escola.
Nesse sentido, entende-se que a formação do professor é indispensável para a prática educativa, a qual se constitui o lócus de sua profissionalização cotidiana no contexto escolar. Dessa forma, compreender a formação docente incide na reflexão fundamental de que ser professor é ser um profissional da educação que trabalha com pessoas. Essa percepção requer deste profissional de educação a busca permanente pelos atos de formação, na busca constante do conhecimento por meio dos processos que dão suporte à sua prática pedagógica e social. Tardif (2009, p. 150) destaca que ensinar é um trabalho emocional, no qual “trabalhamos como seres humanos, sobre seres humanos e para seres humanos”.
O COORDENADOR PEDAGÓGICO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: PERCEPÇÃO E EXPERIÊNCIAS NO CONTEXTO ESCOLAR
Este trabalho está referenciado por uma pesquisa de campo, em andamento, de caráter exploratório, com abordagem qualitativa, cujo objetivo é analisar a atuação do coordenador pedagógico na formação do professor numa perspectiva humanizadora. A amostra foi constituída por 04 (quatro) coordenadores pedagógicos que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em 04 escolas da rede pública de ensino do município de Barreiras, situado na Região Extremo Oeste da Bahia, Brasil.
Para coleta de dados, utilizou-se o questionário (com questões abertas e fechadas) divido em duas partes, a primeira destinada à caracterização dos participantes e a segunda às questões relacionadas aos aspectos substantivos da pesquisa. Os participantes são 100% do sexo feminino. Quanto ao grau de escolaridade, 100% tem alguma Especialização e possuem Graduação em Pedagogia. As informações coletadas foram analisadas à luz de referenciais teóricos acerca da coordenação pedagógica e formação do professor.
Os dados estão constituídos de significados e sentidos que configuram a dinamicidade da atuação do coordenador pedagógico. Assim, entendemos que cada um das respostas são importantes para compreendermos a ação formadora do coordenador numa perspectiva humanizadora. Nesse sentido, serão apresentados a seguir os questionamentos e o retorno dos participantes.
Ao serem perguntados sobre o conceito de educação, os participantes destacaram as seguintes proposições, conforme quadro 01:
C01 |
A educação é humanizadora que torna possível todo ato educativo e leva o sujeito à um processo de ressignificação pessoal e social. |
C02 |
Processo de construção do conhecimento social, pessoal, filosófico e histórico do indivíduo para conquista da autonomia e da cidadania. |
C03 |
Espaço de formação do indivíduo, formação acadêmica e produção do conhecimento. |
C04 |
Processo contínuo de desenvolvimento intelectual, moral do ser humano. Ato de educar, instruir. |
Fonte: Pesquisa de campo |
As concepções sobre educação apresentadas pelos coordenadores pedagógicos correspondem a uma perspectiva humanizadora, processo permanente e contínuo de desenvolvimento intelectual e moral do ser humano. Morin (2012) dialoga quanto a necessidade de compreender a condição humana, contextualizar os saberes, religar os saberes para o desenvolvimento de uma educação para o futuro. Esse pensamento nos remete às exigências do mundo contemporâneo que implica num novo perfil do professor e demais profissionais da educação, de escola, produção de conhecimento e mudança de paradigmas. Moraes (2012) adverte que nessa conjuntura faz-se necessário superar alguns paradigmas relacionados ao conceito de educação, compreendendo o caráter complexo do ser humano, do conhecimento e da aprendizagem com sujeitos criadores, íntegros, integrados, multidimensionais e único.
Nessa ótica, Coité (2011) ressalta a importância da formação inicial e continuada ser abrangente, capaz de permitir ao educador a renovação permanente e a competência pedagógica para melhor atender às exigências da sociedade contemporânea provenientes dos seus processos de mudança e transformação.
Daí a importância do coordenador pedagógico contribuir efetivamente para a construção coletiva de projetos pedagógicos democráticos que correspondam às demandas sociais, politicas e culturais, favorecendo o desenvolvimento de uma educação de qualidade e humanizadora. Morin (2000) destaca que é fundamental ensinar a condição humana por meio da integração “do pensamento, sentimento, educação, aprendizagem e vida, dando o devido destaque aos saberes decorrentes das experiências vividas, lembrando que cada indivíduo traz consigo a singularidade de suas experiências, de suas histórias de vida”.
A partir da concepção de educação os coordenadores foram questionados acerca da qualidade educacional. Sendo assim, na opinião dos participantes, uma instituição educacional pode ser considerada de qualidade de acordo com os seguintes princípios:
- Promove a humanização de todos os envolvidos no processo educativo, garantindo à todos o exercício dos seus direitos e deveres cidadãos.
- Possibilita uma aprendizagem efetiva, de seus alunos e alunas.
- Instituição que se preocupa com a qualidade do ensino e bem estar de seus alunos.
- Respeita às diferenças e trabalha rumo ao desenvolvimento integral do estudante, numa concepção democrática e dialogada.
A maioria dos entrevistados, afirmaram que a instituição educacional na qual atuam como coordenadores pedagógicos pode ser considerada de qualidade.
A qualidade na educação é tema recorrente em estudos, discussões e pesquisas no contexto educacional. No cenário das escolas, os coordenadores pedagógicos e demais profissionais questionam acerca de suas ações cotidianas e a contribuição delas para a construção da qualidade nas instituições. Essas questões geram inquietações que envolvem as instancias de trabalho, a identidade profissional e principalmente as concepções que constituem o termo qualidade. Por sua polissemia, a definição de qualidade na educação é diversa e constituída de várias interpretações influenciadas pelos contextos, subjetividades e anseios que configuram o ambiente relacional das escolas.
Assim, há vários sentidos para a expressão qualidade na educação e eles são construídos a partir da compreensão dos sujeitos que a idealizam e constituem. Nesse sentido, entendemos qualidade em uma perspectiva negociada com participação coletiva. (FREITAS, 2005; BONDIOLI, 2004). Em consequência disso, parâmetros e indicadores de qualidade são concebidos como “significados compartilhados sobre o que deve haver em uma creche para que ela possa ser assim chamada, possa ser reconhecida como lugar de vida e de educação para os pequenos e grandes” (BONDIOLI, 2004, p.19). Sendo assim, a qualidade na educação precisa ser construída por todos os protagonistas da escola sem imposição de indicadores para normatização de ideais e padrões e preestabelecidos.
A partir desse entendimento, compreende-se que, por atuar nas dimensões de articulação, formação e transformação, o coordenador pedagógico tem papel relevante na construção da qualidade da educação. Essa assertiva decorre de alguns fatores, suas ações envolvem todos os protagonistas da escola, bem como são constituídas de instrumentos e procedimentos essenciais no processo de negociação da qualidade. Assim, quando a coordenação pedagógica é concebida como lócus de formação humana e constituição da identidade institucional observa-se que este espaço é constituído por configurações subjetivas e elementos teórico-metodológicos que subsidiam o bom as ações pedagógicas e fomentam a construção da qualidade no trabalho pedagógico (OLIVEIRA, 2015). Entretanto, no âmbito de suas ações ressaltamos a importância da formação do professor, considerada a especificidade primordial do coordenador pedagógico (COITÉ, 2011; FRANCO, 2008; PLACCO E ALMEIDA, 2010).
Em consequência disso, ao serem questionadas acerca das ações que são desenvolvidas pelo coordenador pedagógico que contribui para a formação docente na instituição na qual trabalha, as participantes sinalizaram que são:
- Reflexões coletivas; tomadas de decisão articulando professores e equipe gestora para que as ações se concretizem; estudos e análises dos processos educativos.
- Através de orientações nos momentos de ACs e estudos a fim de subsidiar sua prática pedagógica.
- Nas reuniões do planejamento coletivo semanal, nos planejamentos por unidade, nos acompanhamentos individuais.
- Conselho de classe bimestral, planejamentos e atividades complementares individual e coletiva.
Nesses relatos fica evidente a importância da ação formativa como especificidade da atuação do coordenador pedagógico. Observamos que todas as ações estão vinculadas à dinâmica pedagógica das escolas que, organizadas sistematicamente, constituem o processo de formação docentes. Nesse ambiente de “reflexões coletivas”, “tomadas de decisões”, estudos, pesquisas, planejamento o coordenador é articulador que “motivava e instiga o grupo para reflexões acerca da própria prática e favorece o planejamento e avaliação das ações [...]” (Oliveira, 2015, p. 64). Nesse sentido, é necessário que o coordenador conheça a dinamicidade organizacional da escola para que esse contexto seja transformado por ele, a partir das necessidades dos professores e demanda dos alunos, num ambiente formador. Entretanto, para que os “momentos de ACs”, o “planejamento semanal” e o “conselho de classe” sejam espaços e tempos de formação docente é preciso desenvolver práticas pedagógicas significativas planejadas a partir dos anseios dos professores e necessidades das escolas, observadas pelo coordenador pedagógico no cotidiano de sua atuação.
Nesse sentido, é imprescindível que o coordenador pedagógico assuma uma postura humanizadora em suas relações sociais na escola. Assim, o processo de formação continuada será construído a partir um olhar sensível desse profissional no que diz respeito ao: contexto em que está inserido, às histórias dos profissionais da instituição, às necessidades do trabalho pedagógico. Em consequência disso, a formação é subsidiada por diálogo, reflexão e aprendizagem.
Porém, por trabalhar nas várias esferas das instituições de educação, é solicitado ao coordenador pedagógico o exercício de funções que não fazem parte de suas especificidades. (VASCONCELLOS, 2008). Ademais, nesse contexto há obstáculos que dificultam a ação da coordenação pedagógica. A partir disso, questionamos às coordenadoras quais dificuldades enfrentam em sua atuação, registradas no quadro a seguir:
Falta de receptividade por parte de alguns professores |
Espaço físico inadequado para o desenvolvimento das atividades da coordenação pedagógica |
Os desvios de atuação como atividades de assistência administrativa e deslocamentos temporários da função. |
Falta de apoio institucional para o desenvolvimento das ações formativas na escola. |
Fonte: Pesquisa de campo |
A partir do exposto, observamos a interdependência da atuação do coordenador com os demais aspectos que configuram uma instituição educacional. Os desafios do coordenador envolvem fatores relacionais, estruturais e funcionais. Esta situação gera inquietações e dúvidas dos coordenadores quanto às suas reais funções.
Além do mais, retrata a angustia desse profissional por considerar que não está exercendo de fato uma das principais especificidades de sua profissão: coordenar pedagogicamente ações significativas, envolvendo os protagonistas das escolas, para possibilitar aprendizagem e desenvolvimento humano. Por isso, concordamos com Vasconcellos (2008, p.85) ao questionar: “afinal de contas, qual o papel da supervisão?
Diversas são as reclamações que emergem do cotidiano dos coordenadores: sentem-se sozinhos, lutando em muitas frentes, tendo que desempenhar várias funções. Qual seria sua efetiva identidade profissional?” É nesse contexto complexo e desafiador que a ação formativa numa perspectiva humanizadora surge como alternativa importante para que o coordenador pedagógico compreenda a realidade em que está inserido em sua totalidade.
Dessa maneira, ao estabelecer uma atitude humanizadora que possibilite apreender elementos teórico-metodológicos balizadores de sua prática cotidiana há o reconhecimento da realidade como uma complexidade organizada e constituída de subjetividades, sentidos e significados relevantes para transformações significativas no ambiente escolar.
Os entrevistados foram questionados se “consideram que a sua atuação como coordenador pedagógico seja humanizadora. Por quê?”. As respostas revelam que os participantes buscam desenvolver uma práxis humanizadora por meio da compreensão do fenômeno educativo, da interação, do diálogo e trabalho coletivo, conforme sinalizado a seguir:
- Procuro o tempo todo compreender os processos que ocorrem no ato educativo preferindo sempre apoiar a equipe docente e mediar suas necessidades junto a todos (equipe gestora, pais, e vice-versa) – C01.
- Porque busco de todas as maneiras respeitar alunos, pais e professores como agentes participantes e transformadores de sua ação - C02.
- Na medida do possível, no que depende da ação pedagógica sim, mas no que depende nas condições de trabalho, não - C03.
- Busco sempre dialogar com o outro, trabalhando de forma coletiva, democrática na perspectiva de transformar uma escola participativa entre família/escola, em busca de uma sociedade humanizada - C04.
Esses aspectos favorecem o desenvolvimento de relações mais humanas e comprometidas com um projeto educacional de qualidade, democrático e inclusivo. A atuação da coordenação pedagógica na construção desse modelo educacional, possibilita a consolidação de processos formativos voltados para humanização, disseminação de valores, troca de saberes, experiências e produção de conhecimento. Ademais, permite o reconhecimento do outro, a constituição da identidade profissional do professor e o desenvolvimento “de um olhar múltiplo, que capte a complexidade dos fatos e das pessoas” (ALMEIDA, 2008, p. 17).
Ao serem inquiridos sobre os aspectos necessários para modificar na sua atuação como coordenador pedagógico para que sua ação seja humanizadora, obteve o seguinte panorama:
- Dentro do atual contexto o coordenador pedagógico é aquele que atua mediando conflitos e buscando garantir que todos possam exercer suas funções no ato educativo (professores, gestores, pais, alunos, comunidade local). Essa é uma questão que tem sido complexa – C01.
- Procuramos manter um bom diálogo entre os educadores – C02.
- Ter as condições de trabalho para o desenvolvimento das ações pedagógicas – C03.
- Ouvir mais os estudantes para entender melhor suas condições de vida e assim ter condições de ser o mais coerente possível com sua promoção – C04.
O coordenador pedagógico enquanto agente formador e transformador da escola deve favorecer aos professores e demais atores um ambiente prazeroso, favorável ao estabelecimento de relações interpessoais harmoniosas que respeite o ponto de vista do outro, tornando o contexto escolar uma ambiência de escuta sensível, alegria, prazer e aprendizagem. É nesse ponto que, a educação deve facilitar e promover o desenvolvimento da “consciência, da vontade, da compreensão e do compromisso, como dimensões estratégicas da aprendizagem e do ensino da condição humana” (BATALLOSO, 2012, p. 149).
A sociedade contemporânea exige uma educação concebida e desenvolvida como responsabilidade social, que seja capaz de atender aos desafios e necessidades inerentes à pessoa humana que, de acordo com Batalloso (2012) envolve os aspectos ontológicos, epistemológicos e metodológicos. Assim, é fundamental que o coordenador pedagógico atue em consonância com a promoção de práticas pedagógicas que compreenda a condição humana, comprometida com um processo permanente de auconhecimento e aprendizagem em relação ao outro, voltada para os quatros pilares da educação: o aprender a ser, aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender a conviver.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contexto de atuação do coordenador pedagógico é desafiador, complexo e imprescindível para a construção da qualidade educacional. Por ser espaço de formação humana é constituído por subjetividades, histórias, culturas, sentidos e significados que dinamizam e impulsionam o desenvolvimento do trabalho pedagógico nas escolas.
Apesar dos desafios que obstacularizam o exercício de suas especificidades, o coordenador pedagógico está ciente da importância de suas ações principalmente no âmbito da formação docente. Por considerarem a educação uma prática social a escola passa a ser concebida com ambiente formador, onde a teorização da prática pedagógica é ponto de partida para a construção de projetos formativos significativos. Possibilitar a construção deste espaço de formação é um desafio para o coordenador pedagógico. Isso porque, seu trabalho é constituído de dimensões interdependentes, mas possuem especificidades distintas.
Nesse contexto, assumir uma atitude humanizadora auxilia o coordenador a compreender sua realidade e apreender saberes necessários para o exercício da profissão. A partir dessa conscientização o planejamento pedagógico, os processos avaliativos e principalmente a formação docente tornam-se práticas inter-relacionadas para a formação humana e consequentemente possibilitam aprendizagem e desenvolvimento.
Nessa perspectiva humanizadora de formação docente, a coordenação pedagógica torna-se espaço relacional para troca de vivências e experiências, apreensão de saberes e principalmente configura-se em um ambiente onde respeito, auxílio e cuidado são imprescindíveis por tratar de formação humana. Assim, existe a possibilidade de exercício real da educação como prática relacional e a escola passa a ser fórum social organizada a partir da dialogicidade e democracia para a qualidade de vida de todos que a constituem.
REFERÊNCIAS
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