A GESTÃO PEDAGÓGICA COM FOCO NA QUALIDADE DO ENSINO: CONSTRUINDO ESTRATÉGIAS DE AÇÃO FRENTE ÀS DIFICULDADES DA LEITURA – RELATO DE EXPERIÊNCIA
Resumo: O referido artigo tem como objetivo compartilhar através de um relato, experiências profissionais com ênfase nos resultados da aprendizagem na leitura, focando em particular o suporte dado pelo gestor pedagógico. Algumas concepções que relacionam a qualidade da educação em torno da gestão pedagógica da escola e do currículo enquanto ferramenta da prática pedagógica serão discutidas. A metodologia utilizada se constitui em um relato escrito, tomando como base uma experiência vivenciada em uma turma de 4°ano dos anos iniciais durante o ano de 2012 em uma escola de ensino fundamental, que nos agregou inúmeras reflexões fazendo-nos perceber que um trabalho firmado entre gestor pedagógico, currículo e prática pedagógica docente, conduz certamente à elevação do ensino – aprendizagem.
Palavras-chave: gestão democrática; prática pedagógica; qualidade no ensino
Introdução
Pensar em uma educação de qualidade, com vistas ao enaltecimento do homem, requer inúmeras tarefas que estejam assentadas sobre plano ou projeto que vise a transformação social, visto que, é do meio educacional onde serão articuladas tais competências para atingir os objetivos que se propõe a educação. Nessa perspectiva nos convém relatar diversas faces que arrolam o cerne escolar e que poderão promover a educação com fins qualitativos. A princípio, vale aqui salientar que delinearemos a importância da gestão pedagógica sendo que esta é vista também como um dos principais parâmetros para direcionar a qualidade da educação, bem como apontaremos um esboço da importância da organização curricular enquanto ferramenta da prática pedagógica, uma vez que esta determina os objetivos da educação, além de pautarmos especificamente as experiências pedagógicas em uma turma de 4°ano tendo como suporte os elementos supracitados.
O relato aqui exposto, é fruto de um trabalho pedagógico desenvolvido nos anos iniciais do ensino fundamental em uma turma de 4° ano, que tem como objetivo compartilhar experiências profissionais, com ênfase nos resultados da aprendizagem na leitura com vistas à qualidade educacional, focando em particular o suporte dado pelo gestor pedagógico.
Sabendo que o processo ensino aprendizagem exige articulação entre os saberes promovidos pelos professores e saberes executados pelos alunos, é necessário que o professor opere como intermediador principal com vistas à qualidade do ensino. Seguindo essa ideia, é que tentamos direcionar nosso trabalho com os alunos de 4° ano dos anos iniciais procurando romper com as dificuldades de leitura apresentadas por estes, uma vez que eram inúmeras, tais como: falha no reconhecimento das vogais, consoantes, sílabas, palavras e frases, em suma, grande parte encontravam-se no nível silábico alfabético ou silábico sem valor sonoro e isso rendia consequentemente a autoestima baixa. Estas dificuldades se entrelaçaram como um desafio ao nosso trabalho enquanto docente, mas serviram de base para que a gestão pedagógica visualizasse com um novo olhar a problemática que tanto atingia a turma em estudo, tendo em vista que era um elevado número de alunos.
Com cautela iniciamos o trabalho junto ao grupo de alunos no início de 2012, grande parte destes apresentavam bastante dificuldades de interagir em aula, por não terem o pleno domínio da leitura, isso dificultava muito nosso trabalho, mas ao mesmo tempo nos movia a questionar o por que daquele número de alunos , no 4° ano, não possuírem proficiência leitora, isso nos promoveu a tomarmos algumas atitudes, que consideramos honrosa aos profissionais em educação, que é o de acionar mecanismos para a produção do conhecimento.
De outro modo, a criança ao adentrar na escola, deve adquirir especificamente no ensino fundamental segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em seu art.32 inciso I o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo.
Tomando por base tal princípio percebia-se um distanciamento das crianças especificamente frente às habilidades de leitura. Sabendo que esta vem se constituindo hoje como um dos meios de maior vigor para promover o homem frente à sociedade em que vivemos, permitindo desalienar- se para ter acesso aos instrumentos sociais e acesso à informação, desempenho da expressão oral, além de argumentar, defender opiniões, foi a partir de então se tornando inquietante para a gestão pedagógica e professores, nos vermos tão distante de todos esses mecanismos. Procuramos então, exercitar algumas estratégias que consideramos terem sido imprescindíveis ao rendimento da aprendizagem dos alunos. Nos embasamos em Solé (1998,p.68) quando nos afirma que as estratégias de leitura tem sua ligação ao que adotamos como procedimentos “um procedimento com frequência chamado de regra, técnica, método, destreza ou habilidade – é um conjunto de ações ordenadas e finalizadas, isto é, dirigida a consecução de uma meta”.
Se gerou um profícuo debate entre professores e gestor para sanar a problemática vivenciada naquele momento, as discussões renderam um plano estratégico que aos poucos foram favorecendo o rendimento da aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, muitos foram os procedimentos utilizados para que atingíssemos os objetivos desejados, de modo que atendesse às dificuldades dos alunos e que contribuíssem para que estes ao longo do ano letivo adquirissem a proficiência leitora, e que essa capacidade adquirida subsidiasse os mesmos a superarem as dificuldades nas demais disciplinas justamente pela falta de domínio da leitura.
Sendo o trabalho do gestor um impulsionador do trabalho pedagógico, é possível salientar que este por sua vez, se propõe a articular mecanismos proveitosos que promovem tanto o educador quanto o educando, isto porque, à medida que traça metas, objetivos, direciona a área educativa da escola, com fins para a qualidade da educação, certamente atingirá os ditos objetivos.
Pensando nesse propósito, Luck (2007, p.93) nos traz alguns itens que dão margem para que pensemos em um trabalho dinâmico, quanto a isso o gestor pedagógico:
Promove a visão abrangente do trabalho educacional e do papel da escola,
norteando suas ações para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos. Lidera na escola a orientação da ação de todos os participantes da comunidade escolar pelas proposições do projeto político pedagógico e do currículo escolar. Promove orientação de ações segundo o espírito construtivo de superação de dificuldades e desafios, com foco na melhoria contínua dos processos pedagógicos voltados para a aprendizagem e formação dos alunos.
Mediante o exposto, é possível perceber o quão é importante o trabalho do gestor pedagógico, este passa a ser impactante, pois promove tanto os profissionais em educação, quanto os próprios alunos, sua motivação, empenho, direcionam o trabalho do professor e por vezes o efeito é positivo. Ao que propõe a autora sobre a liderança e orientação de participação da comunidade aliando-se ao projeto político pedagógico e currículo escolar, sentimos que de fato, se isto for colocado em prática há proveito, pois vivenciamos na prática o trabalho desenvolvido pela gestão pedagógica na escola de ensino fundamental do município de Cruzeiro do Sul- Acre.
No intuito de socializar as experiências pedagógicas, sob o apoio da gestão pedagógica, é possível salientar que quando há parceria no trabalho escolar entre gestão e corpo docente, amplia-se a solução para os diversos problemas apresentados e isso garantirá ao aluno que obtenha êxito na sua aprendizagem.
A gestão pedagógica com foco na democracia e qualidade da educação
Ao aliarmos o termo gestão pedagógica à democracia, qualidade e excelência, nos permeia de imediato a ideia de qualidade educacional, uma vez que esta tem sido um dos temas de debate no cenário político educacional. Nesse contexto nos remete aqui compreender a gestão pedagógica como um eixo estratégico para qualificar o trabalho escolar garantindo os resultados da aprendizagem.
A princípio tomemos por base que a escola democrática é aquela que deve firmar seus objetivos e estratégias de ação, de modo que estejam sempre voltados para a realidade escolar, faz-se aqui necessário expressar que o caráter democrático começa a delinear-se justamente nesse sentido, uma vez que para traçar tais objetivos e articular estratégias, a gestão necessita do caráter dialógico visto sob a ótica de um projeto transformador, sendo que dessa forma assegura- se a autonomia e firma- se os propósitos almejados.
Seguindo-se por esse viés, percebemos o quão é valoroso o trabalho do gestor para que de fato a educação atinja os moldes necessários, a responsabilidade do gestor fará com que a escola assuma sua função atingindo os aspectos “políticos e sociais”, aliando-se para a formação da cidadania, desse modo também poderá articular respostas para a pergunta: qual o objetivo da escola? Para responder tal questionamento, Luck (2007,p.94) nos afirma que,
A resposta lógica a essa questão é a de que os alunos aprendam e tenham a oportunidade de desenvolver o seu potencial e as habilidades necessárias para que possam participar ativamente dos contextos sociais de que fazem parte, tanto aproveitando o seu acervo sociocultural e produtivo, como contribuindo para a sua expansão. Aprendizagem e formação dos alunos são, pois, o foco do trabalho escolar.
Mediante o exposto, percebemos que o trabalho do gestor pedagógico não firma-se apenas ao plano de gerir a escola, mas de assumir um caráter estratégico, de modo que beneficie especificamente o aluno, garantindo a este o aprendizado dos saberes necessários que são cobrados pela sociedade e quase que forçosamente, convida - os a acompanharem as mudanças sociais da sociedade moderna. É preciso respeitar os aspectos socioculturais que acompanham o discente, refletindo sobre suas particularidades, pois cada um tem seu ritmo de aprendizagem, pensa e age diferente do outro, tendo portanto, que serem respeitadas essas diversidades.
Seguindo ainda essa ideia, Bordignon e Gracindo (2004) nos trazem em pauta que a escola deve ter seus parâmetros definidos na filosofia da educação, permitindo ao homem açambarcar a “dimensão individual e intelectual” e pelo viés sociológico “encontrar-se no tempo e espaço social”, o indivíduo tomando por base tal itinerário, provavelmente estará submergindo na sua autonomia, sendo capaz de argumentar, contrapor, e traçar novas ideias sobre uma perspectiva de inovação social, visto que ao interagir com o outro essa construção social tornar-se-á mais viável.
Para compreender melhor a ideia exposta, nos convém também admitir que todos os objetivos a serem alcançados não deverão depender única e exclusivamente do gestor pedagógico, é preciso um todo harmonioso no âmbito educacional para que as metas sejam atingidas, precisamos do suporte familiar, pedagógico – assessorado por professores, comunidade, enfim, uma série de fatores que irão fortalecer a qualidade da educação com foco na aprendizagem. Para complementar tal ideia, Campos (2004, p.50) nos traz alguns elementos que são favoráveis à qualidade:
[...] qualificar a escola para garantir resultado positivos exige que a formação dos professores seja garantida. O professor tem que ser motivado, ter segurança e suporte pedagógico para fortalecer o seu trabalho. Educar exige a definição de objetivos e a clareza em atingi-los. O que sugere o êxito do trabalho docente é a avaliação, sobretudo se esta for elaborada com o cuidado em zelar pela mediação dos propósitos da ação docente.
Destarte, a informação supracitada nos propõe uma reflexão acerca de como o trabalho do professor deve ser incorporado no espaço escolar, a princípio a ideia transposta sobre o processo de formação é de fundamental importância, visto que é através das formações onde os profissionais em educação irão inovar seus conhecimentos, além disso, estes qualificarão seu trabalho para atender as necessidades individuais e coletiva. Uma outra ideia adicionada é quanto ao suporte pedagógico, o professor não poderá realizar toda essa dinâmica de trabalho sozinho, é necessário no espaço escolar a troca de saberes, o assessoramento de especialistas para que possa difundir novas ideias e atingir as metas desejadas.
Nesse sentido, tratar da emancipação do ensino requer trabalhar novos mecanismos que movam o homem e a sociedade , e é sob esse enfoque que o gestor pedagógico, professor, enfim toda a comunidade educacional deve se firmar.
O Currículo Escolar enquanto ferramenta da prática docente
Sob uma análise acurada, nos convém aqui relatar a importância do currículo no meio escolar destacando a princípio que seus fins não são alheios aos interesses das pessoas que estão envolvidas no cerne educacional, uma vez que este engloba múltiplos elementos que irão estabelecer uma relação entre a escola e o meio social, o processo ensino aprendizagem, além de dar destaque ao sujeito e o seu contexto cultural.
Porém, podemos perceber que este firma- se muitas vezes como fator hegemônico, apresentando – se com conteúdos determinados ou limitados, quem em grande parte já vem das secretarias estaduais e municipais de educação, mas que por outro lado podem ser reinterpretados dando abertura para que os educadores insiram práticas reflexivas, façam inserção de novas experiências cotidianas, novas ideologias, além de crenças e valores.
Sob essa ótica é notório que o currículo é intencional, sua base por vez definida, traz pressupostos que irão nortear o trabalho de todos os envolvidos: professores, alunos e comunidade, mas não significa que este seja estático, pois como se propõe é “norteador” isso significa que há abertura para produção e recriação, demonstrando aqui nesse cenário um leque de possibilidades para que a prática educativa seja viabilizada inserindo uma ideologia que esteja voltada aos interesses de todos os envolvidos.
Para tanto, insere-se nesse eixo o planejamento, currículo, aliando-se também a organização dos objetivos, juntamente os conteúdos , a metodologia e a avaliação. Desse modo, será seguindo essa direção que toda ação educativa irá se pautar, visto que através desses elementos o trabalho será executado na sala de aula, sobre o propósito de êxito na aprendizagem.
Desse modo Sacristán (2000, p.15-16) afirma que ,
O currículo é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explícita do projeto de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função socializadora e cultural que determinada instituição tem que reagrupar em torno dele uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se encontra a prática pedagógica desenvolvida em instituições escolares que comumente chamamos de ensino. O currículo é uma prática na qual se estabelece diálogo, por assim dizer, entre agentes sociais, elementos técnicos, alunos que reagem frente a ele, professores que o modelam.
No que concerne à ideia afirmada pelo autor, o currículo representa, uma “práxis”, ou seja, destina-se a trabalhar a educação com foco na mudança, uma vez que faz com que a prática pedagógica busque uma postura voltada para um projeto de transformação, fazendo com que o homem interaja no meio social e busque no novo os caminhos para os desafios a partir de um discurso dialético entre os pares que compõem o sistema educacional.
Repensando o currículo dessa forma, este deve se materializar na prática, fazendo com que os profissionais docentes envolvam-se desde a seleção dos conteúdos até sua efetivação no meio escolar. Para tanto, a LDB especifica em seu art.13 dos Inciso I ao VI, orientações que estão voltada para uma reflexão em torno dos mesmos, a fim de tornar melhor a prática do professor e o aprendizado dos alunos, a saber :
I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino;
II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica
do estabelecimento de ensino;
III – zelar pela aprendizagem dos alunos;
IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;
V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar
integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao
desenvolvimento profissional;
VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias
e a comunidade.
Salienta- se aqui o fato de que, o professor é convidado a adentrar no espaço escolar, assumindo tais propostas de modo que este realmente esteja envolvido em todas as atividades que lhe competem e que se volte a atender os anseios da sociedade contemporânea, garantindo a supremacia do aluno através do conhecimento. Para complementar tal ideia Ferreira e Aguiar (2004, p. 155) nos afirma que “ [...] a produção da escola, diferentemente de outras organizações, não tem sua qualidade definida na padronização, mas na “produção” de seres emancipados, autônomos, não autômatos (dimensão individual) e na “produção” da equidade, da justiça social” . Ou seja, isso significa a formação de um sujeito livre, distinto, capaz de pensar criticamente, de confrontar ideias e de sentir-se diante da sociedade um verdadeiro cidadão, em suma, um sujeito social histórico
À luz de uma reflexão ainda sobre o currículo vale ressaltar que este deve condicionar o sistema educacional a se estruturar concretamente passando da teoria para a prática, ganhando um feitio crítico. Nesse sentido Stenhouse (1984, p.29) nos propõe que “um currículo é uma tentativa de comunicar os princípios e aspectos essenciais de um propósito educativo, de modo que permaneça aberto a uma discussão crítica e possa ser efetivamente realizado”. A ideia transposta, nos dá subsídios para pensarmos em um paradigma de qualidade na educação, paradigma este que se volte para um trabalho não limitado e com controles exacerbados, pois isso retira do professor sua autonomia e por que não dizer seu profissionalismo.
Acompanhando tal discussão, o que nos remete é direcionarmos nosso entendimento acerca do processo de avaliação, é importante aludir que nos últimos anos a avaliação tem sido palco de discussões e críticas pela forma como vem se consumando no meio escolar, temos um controle sem forma, que chega a se tornar algo ilegítimo, o professor se vê diante dos critérios previamente estabelecidos, que impõe ao mesmo trabalhar em busca de resultados quantitativos, sem se importar com a qualidade do ensino “estão arraigados ainda pela lógica da classificação e da seleção”. Sobre essa ideia Brasil SEB/MEC (2007, p.19) corrobora que:
[...] Nossa cultura meritocrática naturaliza o uso das notas a fim de classificar os melhores e os piores avaliados. Em termos de educação escolar, os melhores seguirão em frente, os piores voltarão para o início da fila, refazendo todo o caminho percorrido ao longo de um período de estudos. Essa concepção é naturalmente incorporada em nossas práticas e nos esquecemos de pensar sobre o que, de fato, está oculto e encoberto por ela .
Conforme o supracitado, a prática classificatória se torna algo natural sem que percebamos que estamos comungando com os planos hegemônicos advindos do sistema. Para tanto, é necessário que enquanto educadores, se tenha o compromisso de saber mediar frente a esse processo avaliativo. E como relaciona (ibid. 2000, p.19):
[...] a avaliação é uma atividade orientada para o futuro. Avalia-se para tentar manter ou melhorar nossa atuação futura. [...] medir refere-se ao presente e ao passado e visa obter informações a respeito do progresso efetuado pelos estudantes. Avaliar refere-se à reflexão sobre as informações obtidas com vistas a planejar o futuro.
Desse modo, torna-se necessário que ao avaliar, o profissional em educação estabeleça critérios relevantes que não estejam voltados apenas para a atribuição de notas, indicando o que é certo ou errado, mas considerando sempre a possibilidade de que a aprendizagem é contínua e que os alunos são sujeitos cognoscentes, isso se configurará como uma avaliação mais justa, sendo que a escola também se alinhará numa perspectiva democrática.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O referido estudo consiste em relatar uma experiência vivenciada em 2012, na Escola de Ensino Fundamental Governador Hugo Carneiro no município de Cruzeiro do Sul –Acre ,em uma turma de 4° Ano dos anos iniciais. A referida instituição pertence à Rede Estadual de Ensino do Estado do Acre, está situada na Rua Sergipe/ Avenida 25de Agosto n° 51- Centro. Atualmente a escola conta com 700 alunos, funcionando da seguinte forma: Ensino Regular 1° ao 9° ano nos turnos matutino e vespertino. E ainda funciona no período noturno com a Educação de Jovens e Adultos.
Para consolidar este relato, vale ressaltar que tudo iniciou a partir de uma avaliação diagnóstica, realizada no início do ano letivo. Em planejamento, foi discutido que trabalharíamos com os conteúdos de Língua Portuguesa e matemática sob o intento de verificar as habilidades dos alunos frente ao processo de leitura e escrita, e em matemática o domínio das quatro operações, visto que a LDB preconiza em seu art.32 inciso I “o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo”.
Adotamos a princípio estratégias de ensino que fosse possível visualizar as principais dificuldades dos alunos no que concerne à leitura. As atividades aplicadas foram em torno de : parlendas, músicas, listagem , leitura de contos e fábulas, leitura de cantigas que sabem de cor para circularem as palavras, ditados, entre outras.
Foi a partir destas, onde detectamos que boa parte dos alunos não tinham domínio da leitura, isso nos moveu a discutirmos como trabalharíamos com estes alunos para amenizar a situação que nos afligia, uma vez que era grande o número de alunos que estavam com dificuldades e que certamente comprometeria o aprendizado dos mesmos.

fonte: Arquivo Escola Hugo Carneiro
2012

fonte: Arquivo Escola Hugo Carneiro
2012
A primeira iniciativa partiu da gestão pedagógica da escola, nos propondo que traçaríamos metas, sob o propósito de amenizar tal situação. Nessa perspectiva nos propomos a trabalhar levando em conta as particularidades de cada um, de modo que pudessem ser rompidas as dificuldades sob a leitura. Para tanto tematizamos atividades dinâmicas em sala de aula, estas atividades passaram a ser diferenciadas das dos demais alunos, trabalhamos com listagem, músicas que sabem de cor, jogos educativos, dramatizações, projetos didáticos, charges, jogos online voltados para a aprendizagem da leitura, solicitamos o apoio das famílias junto à aprendizagem dos discentes e trabalhávamos com apoio pedagógico no contra -turno três vezes por semana, em torno de duas horas aulas.
As atividades foram projetadas para se trabalhar desde o início do ano letivo, e à medida que os resultados fossem favoráveis, iríamos intensificando as atividades, a fim de que os alunos fossem evoluindo gradativamente diante da leitura.
Ainda na perspectiva de repertoriar as crianças, fazíamos uso das atividades oferecidas nas formações continuada do programa Gestar de Língua Portuguesa oferecido pela Secretaria de Educação do Estado, onde as orientações eram amplas e nos davam subsídios para incorporá-la em nossa prática.
À medida que aplicávamos as atividades percebíamos o avanço das crianças, estes envolviam-se bastante, pois eram atividades atrativas, de cunho lúdico e isso despertava o interesse das mesmas, todas as atividades eram aplicadas em grupo, de modo que uns pudessem assessorar os outros, compartilhando seus saberes e aprendizados.

fonte: Arquivo Pessoal
2012

fonte: Arquivo Pessoal
2012
Partilhávamos com a gestão pedagógica da escola, os relatórios dos resultados, focando a evolução dos discentes através de suas hipóteses e atividades de leitura, crianças que se encontravam no nível silábico- alfabético, em poucos meses passaram a ser alfabéticos.
Avanços foram obtidos e nossa proposta de trabalho foi desenvolvida durante todo o ano letivo, de modo que as crianças não regredissem, pois estavam sendo alfabetizadas com um certo retardo, e nosso esforço era de que a aprendizagem fluísse sendo compatível com a série em que se encontravam, para que adquirissem sobretudo proficiência leitora.

fonte: Arquivo Pessoal
2012

fonte: Arquivo Pessoal
2012

fonte: Arquivo Pessoal
2012
Vale ainda ressaltar que estivemos todo nosso trabalho pautado nos Referenciais Curriculares do Estado do Acre adaptado pela escola, estabelecendo sempre um elo entre o que constava no mesmo e o que era necessário modificar para suprir as reais necessidades dos alunos.
O planejamento acontecia quinzenalmente, a fim de que pudéssemos organizar as sequências didáticas, confeccionar material e acima de tudo compartilhar as experiências, fator de fundamental importância para a prática do professor.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Conforme explicitado anteriormente, as ações desenvolvidas foram de fundamental importância, para compreendermos que a qualidade do ensino não depende de um ou outro que compõe o sistema educacional, mas sim de um coletivo que se faz presente no espaço escolar. Aqui diante desse estudo não se pode negar a participação da gestão pedagógica da referida escola, que focou seu trabalho junto aos professores e alunos no intento de amenizar os problemas relacionados à leitura, tomando os desafios para si, tornando suas práticas realmente democrática.
Todo o esforço nos rendeu um excelente desempenho dos alunos e aos poucos fomos percebendo o quanto foi gratificante trabalhar com propósitos – qualidade no ensino, uma vez que percebemos nos olhos das crianças a felicidade de aos poucos irem sendo alfabetizadas e por mais simples que fossem as atividades, traçavam-se os primeiros passos de proficiência, era basicamente o que nos afirma Smith (1989, p.15) “[...] o poder que a leitura proporciona é enorme, não somente por dar acesso a pessoas distantes, mas também por permitir o ingresso em mundos que, de outro modo não seriam experimentados”. Ou seja, essa vasta dimensão que a leitura alcança, precisa ser valorizada, principalmente nos anos iniciais, visto que é durante essa base inicial que a criança necessita adquirir um aprendizado proficiente, obtendo desse modo, gosto, compreensão e habilidade frente ao processo de leitura.
A gestão pedagógica e professores se pautou sob os aspectos de superação, venceu os desafios que eram inúmeros, sendo um deles a infra estrutura da escola, que dispunha de um péssimo espaço físico na época, a saber: não biblioteca, salas sem iluminação, sem ventilação, superlotação, paredes deterioradas, teto com goteiras, enfim, obstáculos que desestimulam qualquer profissional e por que não dizer as crianças. Mesmo assim, o incentivo dado pela gestão pedagógica nos fez superar os obstáculos e atingir os objetivos educacionais voltados para a qualidade do ensino.
Para nós docentes, ficou evidente o quanto é importante desenvolver nossas práticas recebendo o devido apoio pedagógico, nos sentimos mais capazes em agir nas especificidades, somos capazes de nos organizar , manter novas posturas diante dos alunos que apresentam dificuldades, ancorar laços afetivos, enfim, somos mediadores da produção do conhecimento de nossos alunos tornando –os verdadeiros cidadãos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da realização das atividades desenvolvidas como forma de superar as dificuldades de leitura vivenciada pelos alunos do 4° Ano, tivemos a oportunidade de refletir sobre o quão é importante o papel da ação docente e equipe gestora. Nos perpassa a ideia de que um trabalho coletivo pautado no dinamismo, é um dos pré- requisitos para identificarmos a fragilidade das crianças e estabelecermos um trabalho voltado para as suas especificidades, garantindo o desenvolvimento de suas potencialidades.
O gratificante de se trabalhar focando nas dificuldades dos alunos tomando por base a emancipação dos mesmos, é que que nossas propostas não voltaram-se para uma avaliação de controle com fins quantitativos, fomos apenas orientados pela gestão pedagógica a desenvolver a competência leitora dos alunos. Mesmo sabendo que a escola tem sido cobrada por essa “corrida de resultados” que leva à competitividade e muitas vezes ao desprofissionalismo, nosso trabalho se pautou sob outra direção, tomou por base os conteúdos curriculares, fazendo as devidas adaptações, para que ao serem aplicados na prática garantissem a promoção dos sujeitos.
Portanto, essa parceria firmada entre gestão pedagógica, currículo e prática pedagógica docente, permitiram alargar o conhecimento dos alunos, pois ao término do ano letivo, atingimos um patamar de qualidade educacional que garantiu a promoção dos alunos através da competência leitora.
REFERÊNCIAS
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