A GESTÃO ESCOLAR, O PROJETO POLITICO PEDAGÓGICO E AS NOVAS TECNOLOGIAS

Resumo: A presente pesquisa objetiva apresentar a função da gestão escolar na implantação das TIC na prática pedagógica a partir da elaboração do Projeto Político Pedagógico. Foi realizada revisão bibliográfica em autores que discutem as referidas temáticas. A gestão escolar tem como uma de suas funções a condução da elaboração do PPP como elemento condutor das ações pedagógicas e administrativas da escola. Nesse sentido, deve também nortear a inclusão das TIC na prática pedagógica como instrumento facilitador do processo educativo.

Palavras-chave: Gestão escolar; Novas tecnologias; Projeto politico pedagógico; Ensino.


INTRODUÇÃO

Este trabalho é um recorte da dissertação de mestrado em educação defendida na Universidade Federal de Rondônia - UNIR onde teve como tema: “Implantação das novas tecnologias da informação e comunicação em escolas públicas estaduais de Humaitá-AM: o papel da gestão educacional sobre essa prática”, discutindo sobre as Novas Tecnologias da Informação e Comunicação – TIC dando ênfase para o papel da gestão escolar nesse processo. Teve como objetivo compreender o papel da gestão educacional na implantação das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação no contexto escolar da Rede Pública Estadual de Humaitá-AM. 

O uso das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação na educação é consequência das novas revoluções que vêm ocorrendo na sociedade atual, quer seja no aspecto econômico, político ou tecnológico, pois com a expansão do capitalismo e, consequentemente, da industrialização, as organizações precisaram se adaptar às diversas mudanças em decorrência do processo de globalização, inerente à sociedade contemporânea, afetando todos os campos, não só o setor industrial, mas também o setor educacional, que deve dotar-se de novos paradigmas de administração a fim de situar os sujeitos educacionais nesse novo contexto social e tecnológico.

Nesse contexto, se percebe, nos discursos teóricos, um novo olhar para os métodos e recursos didáticos. O quadro de giz, o cartaz de prega, os desenhos em cartolinas, mapas geográficos estanques e livros didáticos desatualizados deram lugar ao computador, ao datashow e lousas digitais, aos tabletes, aos softwares e aos portais educacionais, facilitando a aquisição do conhecimento que não tem mais a sala de aula como o único lugar propício para sua aquisição e nem o professor como o único detentor do conhecimento. Porém, todo esse discurso, para que, de fato, torne-se prático, perpassa pela forma como a escola é organizada administrativamente e como essa nova prática pedagógica está contemplada em seu Projeto Político Pedagógico da mesma, uma vez que é esse o fio condutor de todo o trabalho desenvolvido na escola; é nesse documento que deverá estar contido a concepção de homem que a escola deseja formar.

Neste trabalho abordamos duas temáticas: gestão escolar e novas tecnologias, que estão interligadas. Inicialmente, faremos um recorte sobre a gestão escolar e a construção do Projeto Politico Pedagógico como processo condutor da ação educacional em âmbito escolar. No segundo item, apresentamos as novas tecnologias e sua utilização na educação como instrumento facilitador do processo de ensino e aprendizagem. No entanto, para isso, tal instrumento deverá estar contemplado no Projeto Político Pedagógico da instituição escolar.

A GESTÃO ESCOLAR E A CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

O Projeto Político Pedagógico (PPP) tem sido alvo de estudos por pesquisadoresSobre a temática do PPP ler (VEIGA, 1995); (VEIGA, 2014); (AZEVEDO, 2014); (COLARES, M. L. I. S; ROCHA, S. H. X.; COLARES, A. A. , 2015). sendo esse o instrumento principal na busca por uma educação de qualidade pautada em preceitos democráticos, uma vez que ele é o condutor do trabalho pedagógico de qualquer instituição escolar. No entanto, para que a escola consiga organizar seu projeto político pedagógico, deve partir de sua base de sustentação: o aluno, uma vez ser esse o sujeito principal de todo processo educativo que acontece no interior das escolas e sendo assim, todas as ações devem ser voltadas para atender o pleno desenvolvimento do estudante como determina a Lei Nº. 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB.

Para que possamos compreender como ocorre o processo de elaboração do projeto político pedagógico, precisamos entender o significado do termo. No “sentido, etimológico, o termo projeto vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa lançar para diante. Plano, intento, desígnio” (VEIGA, 1995, p.12), pois ao planejarmos o caminho que a escola deverá percorrer, deveremos lançar-nos para frente, para adiante, tomando por base aquilo que temos de concreto, ou seja, ver, analisar e refletir sobre o presente para projetar o futuro, uma vez que:

O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional, com um sentido explicito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. [...] Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. Pedagógico no sentido de definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade. (VEIGA, 1995, p. 13).

O projeto político pedagógico, também denominado por Libâneo (2009) projeto pedagógico curricularGrifo do autor. pode ser:

Um documento que propõe uma direção política e pedagógica para o trabalho escolar, formula metas, prevê as ações institui os procedimentos e instrumentos de ação. [...] É Pedagógico porque formula objetivos sociais e políticos e meios formativos para dar uma direção ao processo educativo, indicando por que e como se ensina e, sobretudo, orientando o trabalho educativo para as finalidades sociais e políticas almejadas pelo grupo de educadores. O projeto expressa, pois uma atitude pedagógica, que consiste em dar um sentido, um rumo, às práticas educativas, onde quer que sejam realizadas, e firmar as condições organizativas e metodológicas para a viabilização da atividade educativa. [...] É curricular porque propõe, também, o currículo, o referencial concreto da proposta pedagógica. (LIBÂNEO, 2009, p. 345-346. Grifo do autor).

O Projeto Político Pedagógico tem uma significação indissociável nas dimensões políticas e pedagógicas, visto que por meio de uma ação reflexiva à luz da realidade social, econômica e política dos sujeitos, e mediante critérios filosóficos, políticos, sociais, econômicos e culturais este deve ser um processo permanente de reflexão e discussão dos problemas que envolvem o ambiente escolar, superando os conflitos existentes em seu interior, buscando eliminar quaisquer formas de competição e autoritarismo que possa existir nesse contexto, pois,

A necessidade de organização, participação e encaminhamentos para soluções dos problemas existentes na escola são alguns dos fatores que precedem a elaboração do Projeto Político-Pedagógico, pois o mesmo é antes de tudo a expressão de autonomia da escola no sentido de formular e executar sua proposta de trabalho. É um documento juridicamente reconhecido, que norteia e encaminha as atividades desenvolvidas no espaço escolar e tem como objetivo central identificar e solucionar problemas que interferem no processo de ensino-aprendizagem (NAHUM; ANDRADE, 2012, p. 51).

Dessa forma, o PPP de uma escola ultrapassa a mera elaboração de planos para cumprir exigências burocráticas, mas ao contrário, deve ser um instrumento de condução dos rumos que a educação deve tomar no interior da escola, um projeto que norteia o trabalho da comunidade escolar, condizente com as transformações ocorridas na sociedade contemporânea.

Porém, para que de fato o projeto político pedagógico seja um espaço aonde são planejados os rumos da escola, Nahum; Andrade (2012, p.51) afirmam que

A estruturação do PPP deve estar amparada por concepções teóricas sólidas, e compreensão de seus participantes, os quais devem entender como e para que serve o projeto dentro da instituição, só assim se obterá uma elaboração que faça realmente a diferença. Os agentes educativos devem sentir-se atraídos por essa proposta, pois só assim terão uma postura comprometida e responsável. Trata-se, portanto, da conquista coletiva de um espaço para o exercício da autonomia [...]

Nesse sentido, o Projeto Político Pedagógico deve ser elaborado de forma coletiva sob a liderança da gestão escolar, não sendo visto como algo engessado, elaborado no início de cada ano letivo para cumprindo às normas estabelecidas pelos sistemas educacionais, mas buscar meios para reelaborá-lo continuamente, uma vez que a escola, assim, como a comunidade não é algo estático, mas sim dinâmico, e vive em constante transformação, sendo com isso uma oportunidade de garantir um momento privilegiado de (re)construção, (re) organização, decisão e autonomia da escola.

Considerando a realidade social, política e tecnológica ora vivenciada pela sociedade contemporânea, não podemos falar na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola sem uma ligação com as práticas de gestão educacional, tendo em vista as conquistas na efetivação de uma gestão educacional democrática determinada pela Constituição Federal de 1988 e referendada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96 quando determina que os sistemas de ensino devem definir as normas de gestão democrática do ensino básico, contando com a participação efetiva de toda a comunidade escolar. Assim rege a LDB em relação à questão:

Art. 12º. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;
Art. 13º. Os docentes incumbir-se-ão de:
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
Art. 14º. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996, p. 06).

A legislação vigente determina a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico mediante a participação dos docentes e comunidade escolar, não apenas no processo de elaboração, mas também no acompanhamento das ações previstas no mesmo, visto que não é um trabalho de responsabilidade apenas da gestão escolar ou para ser reproduzido de outras instituições, mas deve contar com o envolvimento de todos: docentes, família, conselho escolar, estudantes e funcionários a fim de verificar se os objetivos estabelecidos foram alcançados ou precisam ser revistos, reelaborados.

Diante da legalidade na construção coletiva do Projeto Político Pedagógico buscamos entender o verdadeiro significado da gestão participativa, sendo esta indispensável para a efetivação de uma gestão democrática.

Entendendo que a escola tem o dever de promover a apropriação do saber possibilitando a instrumentação cientifica e cultural da população por meio dos educadores que tem objetivos sociopolíticos em sua ação educativa pela transformação social, faz-se necessário a essa instituição, adotar formas alternativas e criativas para que de fato a determinação da LDB quanto à participação da comunidade escolar na construção do Projeto Político Pedagógico seja efetivada.

Para isso, a instituição escolar deve criar estratégias de participação a fim de alcançar os objetivos educacionais almejados por toda a comunidade visto ser essa a maior interessada em resultados positivos e conhecem mais profundamente a realidade na qual a escola está inserida. Libâneo (2009, -. 329) afirma que,

O conceito de participação fundamenta-se no princípio da autonomia, que significa a capacidade das pessoas e dos grupos para a livre determinação de si próprios, isto é, para a condução da própria vida. Como autonomia, opõe-se às formas autoritárias de tomada de decisão, sua realização concreta nas instituições dá-se pela participação na livre escolha de objetivos [...]. A participação significa, portanto, a intervenção dos profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da escola.

A participação da comunidade escolar, mais do que uma obrigação legal, é um momento de interação da mesma para decidir os rumos da escola com vistas ao melhor desenvolvimento dos processos de ensino e de aprendizagem e para isso, devem ser contemplados no projeto todas a ações que deverão nortear o processo pedagógico da escola de forma a contribuir para a formação integral do sujeito. Porém, a participação da comunidade escolar só será efetivada se a instituição oferecer condições de participação aos pais, alunos e docentes nesse processo de diálogo e convivência verdadeiramente humana. E nesse sentido,

A direção deve estar consciente de que, para abertura dos portões e muros, a escola deve estar predisposta a mudanças na gestão e na forma de participação da comunidade. É necessário entendê-la como participação política, que deve ser entendida como direito de cidadania (PARO, 2001, p. 47).

Nesse sentido, a participação não deve ocorrer apenas no âmbito da simples presença da comunidade escolar para assinatura da ata e aprovação das decisões já tomadas anteriormente pela equipe gestora, caracterizando dessa forma uma pseudoparticipação, mas é preciso uma participação efetivamente comprometida, a partir de ações concretas nos caminhos que a escola deverá seguir.

No atual contexto globalizado, marcado pelas tecnologias e tendo a informação como matéria-prima para diferentes ações, o PPP da escola da educação básica, deve contemplar em seu interior ações condizentes com o atual modelo de sociedade, pois no mundo contemporâneo, a informação adquiriu importância econômica e a revolução tecnológica é um dos fatores fundamentais para as transformações sociais, culturais, políticas e econômicas da atualidade e assim sendo, deve estar presente no contexto escolar, uma vez que tal instituição tem o papel de subsidiar o educando na construção de sua autonomia. Assim sendo, a escola, tem a função de contribuir para a inclusão digital e, portanto, social do educando, por meio do acesso aos diferentes benefícios como a educação, o trabalho, à comunicação e às relações sociais. Portanto, inserir as TIC no processo educacional, é uma das responsabilidades na gestão educacional que deverá conduzir a elaboração do PPP de modo que contemple tais exigências, inerentes à sociedade contemporânea, pois,

Ao explorar as potencialidades das TIC no seu cotidiano, principalmente com o acesso à Internet, a escola abre-se para novas relações com o saber, vivenciando a comunicação compartilhada e a troca de informações com outros espaços do conhecimento que possuem os mesmos interesses. Essa abertura à articulação com diferentes espaços potencializa a gestão escolar e provoca mudanças substanciais no interior da instituição, no qual o ensino, a aprendizagem e a gestão participativa podem se desenvolver em um processo colaborativo com os setores internos e externos da comunidade escolar. (ALMEIDA; RUBIM, s/d, p. 01).

Entendendo que todas as ações da escola devem estar pautadas no Projeto Político Pedagógico, a utilização das novas tecnologias no âmbito escolar, deve também estar contida em tal projeto, uma vez que seu uso gera impactos em todas as relações. Na relação aluno-professor, por meio da autonomia do aluno que não tem mais o professor como o único detentor do conhecimento, sendo o mesmo apenas o mediador do processo; na relação escola-sociedade, a escola deixa de ser o único lugar onde se adquire conhecimento passando a exercer outras funções na vida do estudante; na relação aluno-conhecimento, modifica a forma como o aluno entra em contato com o conhecimento, contribuindo na construção de sua autonomia.

Dessa forma, tendo em vista as alterações na prática pedagógica no interior da escola e, sendo essas responsáveis pela transmissão do saber e renovação do conhecimento, não temos como ignorar as evoluções que vem ocorrendo na sociedade. Desta forma, sendo o projeto político pedagógico o instrumento condutor dessa prática, é imprescindível que a utilização das novas tecnologias da informação e comunicação sejam contempladas no referido projeto.

A GESTÃO ESCOLAR E AS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Todas as pessoas envolvidas no processo educacional querem seja o sistema educacional quer sejam as secretarias de educação ou as instituições de ensino têm como preocupação comum a administração da escola, uma vez que tal função exige um profissional que possua competências e habilidades tanto na área da educação como também na área de administração tendo em vista as várias dimensões da gestão escolar.

Para que esses profissionais possam desempenhar com competência essa função, estudos vêm sendo desenvolvidos no sentido de implantar na área de educação, áreas afins que contribuirão para um melhor desenvolvimento da prática administrativa.

Esse esforço abrange inclusive a área das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC, que podem ser usadas para tornar mais eficiente a própria administração, criando novos procedimentos, dinamizando e agilizando os existentes, desenvolvendo e ampliando as funções administrativo-pedagógicas. (MASETTO, 2003, p. 69).

Atuar no sentido de possibilitar novas competências à gestão escolar contribui significativamente para a efetivação de um ensino pautado nas novas exigências da sociedade tecnológica, iniciando por mudanças na prática administrativa, pois:

De acordo com as modernas concepções de administração, a escola é uma organização social, especialmente destinada à formação das crianças e jovens, que tem vida própria, um organismo vivo que interage com o ambiente social extraindo dele estímulos e energia necessários para desenvolver o trabalho. Sendo assim, não é possível pensar na escola senão a partir de um determinado contexto social, do qual ela se nutre e para o qual ela forma as pessoas. Portanto, pensar a escola independente dessa circunstancia é totalmente improdutivo. (ALONSO, 2007, p. 27)

Corroborando com Alonso, entendemos que se faz necessário ajustar a escola, tanto em relação à sua organização, que deve assumir novas posturas e novas funções mediante esse novo contexto, como também na questão da estrutura, perpassando esta pela utilização das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Segundo Almeida (2003, p. 113)

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) foram inicialmente introduzidas na educação para informatizar as atividades administrativas visando a agilizar o controle e a gestão técnica, principalmente a oferta e a demanda de vagas e a vida escolar do aluno.

Vendo as Tecnologias da Informação e Comunicação como invenções da sociedade contemporânea, sua utilização no contexto educacional assume um papel decisivo no sentido de transmissão e armazenamento de informações as quais poderão ser utilizadas à medida que forem necessárias. Porém,

A simples introdução de recursos tecnológicos não é condição suficiente para modernizar a escola e torná-la apta a responder à demanda de uma sociedade cujo processo de mudança é acelerado, requerendo das pessoas criatividade e inovação, bem como o desenvolvimento de competências que lhe permitam ajustar-se às novas situações e enfrentar os desafios. Nesse contexto, a mera aquisição e reprodução de informações têm pouca serventia se as pessoas não souberem quando e como utilizá-las para resolver os problemas com que se defrontam [...] (ALONSO 2007, p. 22)

Para inserir mudanças na estrutura escolar, não basta a inserção de equipamentos; antes faz-se necessário que a mudança aconteça prioritariamente com os educadores, visto ser esses peças-chave no processo educacional. Tais profissionais devem compreender qual seu papel na sociedade, pois adequar a escola às novas demandas tecnológicas requer uma avaliação da pratica educativa e administrativa de docentes e gestores escolares. Estes, responsáveis pela condução do processo formador de crianças, jovens e adolescentes, devem ser preparados a fim de que possam reconhecer-se como intérpretes e líderes desse processo, uma vez que:

Com a proposta de repensar as dinâmicas do conhecimento, é necessário que ocorram alterações na concepção de gestão das organizações escolares para que elas possam proporcionar uma educação de qualidade. O gestor terá de se adaptar a novas funções e assumir o papel de facilitador do processo. É preciso que tenha clara uma nova concepção de gestão, que consiga, de fato, exercer este papel sem fazer distinção entre as tarefas administrativas e as pedagógicas, que saiba dividir as responsabilidades entre os grupos que concebem, que planejam, e os que executam, atribuindo a todos, sem distinção, o sucesso ou fracasso obtidos nos resultados finais. (TERÇARIOL; SIDERICOUDES, 2007, p. 520)

Além das funções administrativas e burocráticas que estão sob a responsabilidade da gestão escolar, a equipe gestora deve compreender e se utilizar do potencial oferecido pelas novas tecnologias, tanto nas questões administrativas, mas também pedagógicas e para isso, faz-se necessário que também os profissionais desse setor, recebam uma formação que os torne habilitados a fazer uso das TIC em sua prática profissional, bem como subsidiar, motivar e incentivar o uso por parte dos docentes.

Por muito tempo, as Tecnologias da Informação e Comunicação foram utilizadas somente na parte administrativa da escola na efetivação de matriculas online, emissão de documentos ou quando muito, os docentes utilizavam os computadores para imprimir algum trabalho aos seus alunos. Porém, tendo em vista a ampla utilização das TIC na educação, cabe à equipe gestora, atuar como líder na elaboração de projetos que favoreçam a incorporação das mesmas nos diferentes setores educacionais quer sejam em processo administrativo, pedagógico, avaliação educacional e também na formação de seus docentes.

No setor administrativo podem contribuir no registro da vida escolar dos alunos como boletins, fichas individuais, ocorrências sobre a progressão ou não na aprendizagem; na digitalização de documentos da escola; em planilhas financeiras; controle de estoques de material didático, de alimentação e limpeza; no registro dos funcionários por meio de fichas individuais; na biblioteca através de controle do acervo bibliográfico e programa de consulta aos mesmos como banco de dados; no dia-a-dia da secretaria da escola, além de ser um aliado em reuniões de pais e coordenação pedagógica, pois,

O uso das tecnologias nas reuniões de planejamento e de conselho de classe mostra que elas podem ajudar a equipe gestora a organizar os dados acerca das decisões tomadas coletivamente, bem como apresentar, de modo mais otimizado, os dados sobre as turmas e alunos, como em gráficos e tabelas, para melhor visualização e apresentação, a fim de mobilizar o grupo de professores para análise. Discussão e busca de soluções conjuntas ou especificas. (VALLIN; RUBIM), 2007, p. 91)

Tais ações, mesmo sendo de cunho administrativo, têm objetivos pedagógicos, visto que aquela não é a área fim da educação, mas está a serviço desta para atender os objetivos educacionais. Nesse sentido, não se trata de utilizar as TIC como recurso em si mesmo, mas organizar os dados da escola de modo que facilite o processo educativo.

Nesse sentido, a gestão educacional é a responsável pela condução de todo o processo escolar quer seja administrativo ou pedagógico e as TIC podem contribuir com a gestão facilitando o processo de ensino e aprendizagem. Dessa forma, a equipe gestora deverá ter um caráter inovador na utilização das novas tecnologias implementando ações que visem o desenvolvimento de projetos de aprendizagem por meio, principalmente de softwares educacionais e sites institucionais educativos e para pesquisas, o que ajudarão tanto os docentes, como também os discentes.

Nesse setor, por meio de projetos elaborados e implementados pela equipe gestora, as TIC podem também contribuir com os discentes em aulas de reforço escolar e na educação de jovens e adultos, objetivando estimular os alunos com dificuldades de aprendizagem, bem como aos adultos que não tiveram acesso à escola na idade certa, contribuindo também para a inclusão digital desse segmento.

No processo de avaliação da aprendizagem e na avaliação institucional, as TIC podem ser grandes colaboradoras, uma vez disponibilizam novos meios e técnicas a fim de medir o processo de aprendizagem dos alunos. Na avaliação institucional, as tecnologias podem ser excelentes parceiras visto que:

O registro do que a escola tem feito é um importante caminho no processo de avaliação, uma vez que permite recuperar as informações a qualquer momento para análise, estudo e tomada de decisão, visando à participação de todos na construção coletiva da escola. [...] a recuperação e análise de dados de sistemas de avaliação, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), [...] podem potencializar a avaliação da escola. Por meio da organização dos dados em planilhas e gráficos, é possível perceber com mais facilidade as situações problemáticas dos alunos e turmas, podendo ser usadas, inclusive, como informações nas reuniões de conselho classe e da escola para busca de soluções conjuntas. (VALLIN; RUBIM), 2007, p. 93).

Essa função das tecnologias no interior das instituições educacionais é imprescindível uma vez que qualquer instituição precisa de planejamento, avaliação e reavaliação de suas ações, para traçar metas e caminhos a serem percorridos e as novas tecnologias podem contribuir para aperfeiçoar esse processo, pois a partir da análise dos dados apresentados, novos rumos podem ser tomados para erradicar os problemas da escola.

Outra função das TIC que contribui para a efetivação de uma boa gestão educacional refere-se ao processo de comunicação interna e externa da escola, revelando-se em dois âmbitos:

Um deles diz respeito à divulgação interna e externa da instituição, por meio da construção do site da escola e blogs com o intuito de disponibilizar, para a comunidade em geral, informações sobre a escola, como: projetos e eventos realizados, boletins informativos para acesso dos pais, abertura de espaço para divulgação de parcerias. (VALLIN; RUBIM), 2007, p. 93).

Ao abrir a escola para a comunidade externa, quer seja por meio das TIC, quer sejam através de ações presenciais, a gestão escolar estará promovendo a articulação da escola com diferentes setores, para a busca coletiva de problemas comuns.

Em relação à comunicação interna, as TIC podem contribuir também com a gestão escolar facilitando a comunicação entre seus profissionais, criando e-mail institucional, chat de bate-papos, fóruns de discussão entre outras opções que podem facilitar o processo de comunicação interna e, consequentemente, melhorias no processo de ensino.

Na formação dos profissionais da escola, tanto dos docentes e gestores, como todos os demais que compõem o quadro da escola, as TIC têm grande contribuição. Além da formação da informática básica que todo cidadão da contemporaneidade deve possuir, as TIC podem contribuir para ampliar o acervo de conhecimentos dos decentes por meio da pesquisa e da interação com outros profissionais. Aos gestores, assim como aos educadores, há a necessidade da formação continuada para a inserção de uma nova cultura no interior a escola: a cultura tecnológica.

Dessa forma, percebemos que, embora as marcas dicotômicas e hierarquizadas herdadas da administração cientifica, centralizada na questão administrativa, a gestão educacional vem sendo conduzida para um novo modelo de administração, embasada em preceitos democráticos e participativos o que poderá contribuir para a inserção das TIC no interior das escolas em todas os diferentes setores, uma vez que a escola é um corpo orgânico onde todos os setores deverão estar interligados para o alcance do objetivo final: a formação integral do educando.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos no decorrer deste trabalho como as transformações sociais e tecnológicas influenciam em todos os setores da sociedade, exigindo da escola novos paradigmas na ação do fazer educação.

Entendemos que várias foram as transformações ocorridas no âmbito da administração escolar que tem seus fundamentos na gerencia cientifica de Taylor e, dessa forma, também a questão pedagógica foi influenciada pelas transformações ora ocorridas, principalmente, as tecnológicas que adentraram o ambiente escolar, provocando inovações significativas na forma de transmissão e aquisição do conhecimento, uma vez que este, com o uso das novas Tecnologias da Informação e Comunicação, saiu do âmbito apenas escolar e tomou dimensões maiores que ultrapassaram as barreiras do tempo e do espaço.

Tendo em vista que a escola, em sua função primeira, é a responsável pela transmissão dos saberes historicamente acumulados, a partir das transformações tecnológicas, esta deve adotar novas funções que estejam em sintonia com a nova realidade.  Dessa forma, faz-se necessário reinventar a escola uma vez os meios de comunicação, de modo especifico, as TIC estão revolucionando as formas de construção do conhecimento.

Entendemos que, no atual contexto da sociedade globalizada, educação e tecnologia estão intrinsecamente relacionadas, sendo necessário que as escolas busquem a efetivação desse instrumento pedagógico em seu interior, de modo a modificar sua forma de fazer educação. Uma educação voltada para a autonomia do sujeito na busca pelo conhecimento pois, mais importante que apenas o uso das TIC no processo educativo, a escola precisa ter a capacidade de adequar o uso desses equipamentos aos objetivos educacionais de forma que possam possibilitar ao educação a motivação e o  interesse e o gosto pela busca do conhecimento, despertando dessa forma sua autonomia.

Para que a aprendizagem aconteça, a motivação, os conhecimentos anteriores, os objetivos que se deseja alcançar, são fundamentais e perpassam a simples utilização das novas tecnologias. Nesse sentido, mais que equipamentos, o professor necessita saber utilizar as tecnologias na transposição didática, entendida como a passagem do saber científico para o saber escolar, de forma que esse saber ensinado, seja significativo na vida do educando, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.

Porém, para isso, é preciso que a utilização das TIC na prática pedagógica e administrativa da escola, esteja contemplada em seu Projeto Político Pedagógico, visto ser esse o documento direcionador das ações nas instituições escolares. Assim sendo, entendemos que esse é o principal papel da gestão educacional na implantação das TIC no âmbito escolar: conduzir a elaboração, implantação e acompanhamento do Projeto Político Pedagógico contendo todas as ações que nortearão o trabalho da escola nas diferentes questões, mas no caso específico deste trabalho, subsidiar ações que proporcionem a formação de professores para o agir pedagogicamente no novo contexto social e tecnológico, bem como busca a implantação de projetos que viabilizem a utilização das TIC no interior das escolas, tanto em relação às questões pedagógica, como também da infraestrutura.

A presente pesquisa nos possibilitou um novo olhar a respeito da utilização das TIC no cotidiano das escolas bem como o papel do gestor, sem, contudo, percebê-las como antídoto para os problemas da educação, pois as tecnologias descontextualizadas não trarão mudanças na educação, mas a partir delas, vendo-as como meio e não como fim, a educação pode melhorar sua qualidade no processo de ensino e aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA M. E. B. de.; RUBIM L. C.B.  O papel do gestor escolar na incorporação das TIC na escola: experiências em construção e redes colaborativas de aprendizagem. Disponível em: <http://www.eadconsultoria.com.br/matapoio/biblioteca/textos_pdf/texto04.pdf>. Acesso no dia 14/02/2014.

ALONSO, M. Formação de Gestores Escolares: Um campo de pesquisa a ser explorado. In ALMEIDA, M. E. B.; ALONSO, M. (orgs.) Tecnologia na Formação e na Gestão Escolar – São Paulo: Avercamp, 2007.

AZEVEDO, J. M. L. O projeto político-pedagógico no contexto da gestão escolar <http://escoladegestores.mec.gov.br/site/5-sala_planejamento_praticas_gestao_escolar/pdf/u1_saibamais1.pdf> acesso em 24 de março de 2016.

AZEVEDO, J.M.L de O projeto político-pedagógico no contexto da gestão escolar. Disponível em <http://www.virtual.ufc.br/cursouca/modulo_3b_gestores/tema_05/anexos/anexo_5_tics_na_gestao_escolar2010_CarmemPrata.pdf> - acesso no dia 19/02/2014

BRASIL. Câmara dos deputados. Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional. Secretaria especial de informação e publicações. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. 

COLARES, M. L. I. S; ROCHA, S. H. X.; COLARES, A. A. Gestão democrática e projeto político pedagógico. Curitiba: Editora CRV, 2015.

LIBÂNEOJ. C. Et.all. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. – 8ª. Ed. – São Paulo: Cortez, 2009.

MASETTO, M.T.  Cultura Educacional e Gestão em Mudanças. In. VIEIRA, A. T.; ALMEIDA, M,E,B,; ALONSO, M. (orgs)  Gestão Educacional e tecnologias.  – São Paulo : Avercamp, 2003

NAUHM, C.L. e ANDRADE, H. C. S. A elaboração do Projeto Político Pedagógico com base na Gestão Democrática: os entraves na participação coletiva. In: COLARES, M. L. I. S.; XIMENES-ROCHA, S. H.; COLARES, A. A. Gestão Educacional: práticas reflexivas e proposições para escolas públicas. Belém: GTR, 2012.

PARO, V. H. Gestão Democrática da Escola Pública. São Paulo: Ática. 2001.

TERÇARIOL, A.A. de L.; SIDERICOUDES, O.  Potencializando o uso de tecnologia na escola: o papel do gestor. . In ALMEIDA, M. E. B.; ALONSO, M. (orgs.) Tecnologia na Formação e na Gestão Escolar educacional e Tecnologia. – São Paulo: Avercamp, 2007.

VALLIN, C.; RUBIN, L.C.B.; Articulação Administrativa e Pedagógica na Gestão Escolar com o uso das Tecnologias. In ALMEIDA, M. E. B.; ALONSO, M. (orgs.) Tecnologia na Formação e na Gestão Escolar. – São Paulo: Avercamp, 2007.

VEIGA, I. P. A. Projeto político pedagógico e gestão democrática <http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CBwQFjAA&url=http%3A%2F%2Fdisciplinas.stoa.usp.br%2Fmod%2Fresource%2Fview.php%3Fid%3D93187&ei=uX6hU6ntMeLgsATWx4CgCg&usg=AFQjCNGdg0JxqghRxXpix4X5Mhjb8U11eA&sig2=kcEUgZEcu9Wp1NqQCCdUIA&bvm=bv.69137298,d.b2k,> acesso em 24 de março de 2016.

VEIGA, I.P.A. Projeto Político Pedagógico da escola: uma construção coletiva. In VEIGA, I.P.A. (Org). Projeto Político Pedagógico: uma construção possível. – Campinas, SP : Papirus, 1995.