ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DESAFIOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA E DO TRABALHO PEDAGÓGICO
Resumo: Este estudo parte de reflexões e análises constituídas a partir do projeto de formação continuada realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa da Infância e sua Educação em Diferentes Contextos (NEPIEC), da Faculdade de Educação, Universidade Federal de Goiás. O curso Educação Infantil, Infância e Arte, foi desenvolvido em cinco cidades interioranas do estado de Goiás - 2013/2015, atendendo professores que atuam na Educação Infantil, da Rede Pública Municipal de Ensino. O principal objetivo do curso foi o de possibilitar e ampliar a compreensão dos professores sobre o processo de educação estética e artística na infância, no qual a vivência artística pode unir crianças e adultos no campo da cidadania e da ampliação das percepções, de sentidos e significados.
Palavras-chave: Educação Infantil; Arte; Formação Continuada.
APRESENTAÇÃO
Este estudo se constitui como um desdobramento do trabalho de formação continuada realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisa da Infância e sua Educação em Diferentes Contextos (NEPIEC) em cinco cidades interioranas do estado de Goiás, intitulado Educação Infantil, Infância e Arte. Este processo de formação foi realizado com professores e professoras que atuam com as crianças da Educação Infantil, da Rede Pública Municipal de Ensino, com o objetivo de possibilitar e ampliar o processo de alfabetização estética e artística de professores e em especial das crianças de até 6 anos de idade. Nessa perspectiva, estabeleceu-se, primeiramente, um diálogo conceitual com os professores da Educação Infantil norteado pelas seguintes questões: Mas arte? Para quê? Por que arte na educação infantil? Será que o que temos ensinado é arte? Com vista a ressignificar a arte enquanto objeto de conhecimento, assim como ampliar as experiências estéticas e artísticas dos professores.
Num segundo momento, verticalizou-se o olhar para as Artes Visuais, em busca de uma aprendizagem significativa para as crianças, cuja base metodológica envolvesse o poetizar, a fruição e o conhecer arte. O debate desenvolveu-se nas disciplinas de Educação Estética, Arte e Infância e Artes Visuais na Educação Infantil, tendo como aporte teórico os seguintes autores: Barbosa (2002; 2007), Ferraz e Fusari (1993, 1999), Martins, Picosque e Guerra (1998),Snyders (1988), Vygostky (1994), entre outros, os quais se constituiram como mediadores do trabalho de reflexão conceitual, análise da realidade, apropriação e ressignificação do fazer artístico no contexto da Educação Infantil.
A formação continuada, nessa perspectiva, parece implicar a interpelação entre os direitos civis e profissionais, no qual a vivência artística pode unir crianças e adultos no campo da cidadania e da ampliação das percepções, de sentidos e significados de diferentes atividades humanas. Poetizar, isto é, produzir arte, fruir e conhecer, além de envolver-se em experiências e vivências com artistas e suas obras; conhecer múltiplas formas e possibilidades de expressão em diferentes espaços e utilizando diferentes recursos e materiais; tudo isso pode favorecer a consciência pelos professores e crianças com que atuam sobre a necessidade e importância do estudo, da pesquisa e da ampliação dos próprios repertórios culturais, estéticos e artísticos, remetidos sempre aos processos de apropriação ativa das crianças e adultos frente à realidade. Esse é um mote fundamental de um projeto educativo emancipador.
A ARTE COMO OBJETO DE CONHECIMENTO
A arte é uma das mais inquietantes e eloqüentes produções do homem. Arte como técnica, lazer, derivativo existencial, processo intuitivo, genialidade, comunicação, expressão, são variantes do conhecimento arte que fazem parte de nosso universo conceitual, estreitamente ligado ao sentimento de humanidade (FERRAZ E FUSARI, 2001, p. 103).
O conhecimento artístico faz parte da vida do homem, de sua cultura e de sua organização social; é um fator essencial no processo de humanização. Constituindo-se como um dos meios pelos quais o homem interage com o mundo em que vive, constrói conhecimento, responde e/ou elabora novos questionamento sobre si e o mundo, ordena, significa a vida e a consciência de existir. Portanto, a arte deve ser compreendida como objeto de conhecimento que tem importância em si mesma. Por meio da arte, o homem constrói e (re) constrói o percurso da história humana, produz artefatos, músicas, filmes, pinturas, danças, peças teatrais, entre outros, que expressam as representações imaginárias das diferentes culturas. Constrói, assim, uma história social de produções culturais que estruturam o nosso senso estético e compõem o patrimônio artístico e cultural da humanidade.
O conhecimento artístico tem um compromisso também com a interculturalidade Termo cunhado por Ana Mae Barbosa (2007), ao refletir sobre dos termos multiculturalismo e pluricultural: coexistência de diferentes culturas na mesma sociedade. Para esta autora, o termo interculturalidade seria mais apropriado por significar a interação entre culturas., definida por Barbosa (2007), como “a interação entre as diferentes culturas”, isto implica não privilegiar apenas os códigos e as manifestações artísticas e culturais dos povos europeus e norte-americanos brancos, mas respeitar, valorizar e difundir, como patrimônio da humanidade, as produções artísticas culturais dos diferentes grupos étnico-raciais, gêneros, classes sociais, entre outros. Portanto, é objetivo da arte “fornecer conhecimento sobre a cultura local, a cultura de vários grupos que caracterizam a nação e a cultura de outras nações” (BARBOSA, 2007, p.19). Assim, o que está em jogo é a conquista de um novo modo de existir, a transformação de um estilo de vida que rompa com o conhecimento artístico massificado e estabeleça um diálogo entre a cultura primeira e a cultura elaborada sem hierarquia, visto que não existe cultura superior ou inferior, mas um entrecruzamento social, histórico, ético e estético, com vistas a modificar a vida, o olhar sobre o universo estético do outro e a diversidade cultural e artística.
Nessa mesma direção, Snyders (1988), afirma que a arte educa o olhar, ao mesmo tempo em que desvela a realidade por meio do estranhamento, do questionamento, bem como por seu caráter inovador, criativo, utópico Utopia entendida como esperança, nas palavras de Freire (2006, p.72): A esperança faz parte da natureza humana. Seria uma contradição se, inacabado e consciente do inacabamento, primeiro, que o ser humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto a participar de um movimento constante de busca e, segundo, que se buscasse sem esperança. A desesperança é a negação da esperança. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica. Sem ela não haveria história, mas puro determinismo. , o que possibilita uma releitura do mundo e é nesse processo que se efetiva a formação humana. Portanto, almeja-se que o conhecimento artístico possibilite o acesso a uma visão mundo mais ampla, ou seja, nos permita ampliar a compreensão do mundo, nossa sensibilidade, nossa capacidade de significar e ressignificar o mundo. Desse modo, o conhecimento artístico não é algo perdido em museus, nas praças, nos teatros, entre outros, apenas para ser admirada e/ou odiada, são modos de vida a conhecer, trazem em sim a força da inovação, do questionamento, da dúvida, da mudança, isto é, conforme Snyders (1988) ela pode nos ajudar a ler o real, encontrar novas saídas, novos rumos. Para este autor, o conhecimento artístico é prova que os homens estão produzindo sua história, buscando significados de ser e estar no mundo, estão em movimento/ebulição.
Nesse aspecto pode-se afirmar que a teoria marxista já afirmava que a natureza humana não era abstrata, fixa e imutável, mas pelo contrário a natureza humana se constitui nas relações sociais e historicamente determinadas, no encontro com o outro, na correlação de forças, no diálogo, na produção coletiva, na apropriação dos conhecimentos produzidos, na mudança e nas constantes transformações. O conhecimento artístico, nesse contexto, se torna um dos caminhos pelos quais o homem retifica o mundo, as linguagens artísticas abrem possibilidades para novas aprendizagens, para ampliar a consciência dos homens, nas palavras de Snyders “a partir da satisfação cultural construo-me, cresço; minha satisfação cultural é crescer, construir-me. São os heróis, que ultrapassando e de longe a vida quotidiana, ajudam-se a edificar minha vida quotidiana” (1988, p.74).
Portanto, a experiência artística exige-nos um olhar atento, curioso, inteligente, que possibilite um diálogo, uma aproximação, uma articulação com conhecimentos construídos na prática social – uma interação entre cultura primeira e cultura elaborada, fomentando o diálogo com o outro, seus modos viver e pensar a vida, sobre o sentido da arte em nossas vidas e consequentemente de nossas vidas. Por meio do conhecimento artístico abre-se uma arena de negociação entre os diversos conhecimentos e as diferentes culturas, um território de debates no qual a linguagem plástica, corporal, musical, poética, cinematográfica, entre outras, são provocadores de nossos olhares, de nossas crenças, de nossa forma de pensar e interpretar o mundo, o outro e a nós mesmos.
Para Vygotsky (2010), a arte deve ser entendida como uma forma de expressão humana, que envolve processos de representação simbólica para a comunicação dos pensamentos e dos sentimentos, isto é, assume um importante papel como meio de comunicação e expressão que articulam aspectos visuais, plásticos, musicais, estéticos, sensório-motor, gestual, linguístico, entre outros, tornando-se útil na compreensão crítica da realidade humana.
Com vista a pensar as inter-relações entre a arte como conhecimento e a Educação Infantil partiu-se do pressuposto que a formação continuada dos professores e professoras de crianças até 6 anos de idade, assim como o trabalho pedagógico precisam ser ressignificados, nessa direção Trierweiller (2011, p. 86) questiona aos professores “é possível ampliar o repertório artístico-cultural das crianças, quanto o próprio professor tem seu repertorio artístico-cultural limitado? Como considerar na criança e propor a ela aquilo que não faz parte do seu próprio acervo? E Almeida (2001, p.13) questiona “o porquê da presença da arte no currículo escolar?”(...) “O que os alunos aprendem quando desenham, pintam ou constroem imagens tridimensionais, quando cantam e tocam, dançam ou dramatizam?”(...) “Em artes, o que pode e o que não pode ser ensinado?”
ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DESAFIOS POSTOS PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DE O TRABALHO PEDAGÓGICO
No que tange a educação das crianças de até 6 anos de idade, processo de aprendizagem e desenvolvimento, assim como a organização curricular das instituições de Educação Infantil as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Dcnei, 2009) – Resolução nº5, de 17 de dezembro de 2009 – têm defendido a importância das linguagens artísticas e vivencias estéticas e culturais para as crianças pequenas, no Art.6º, inciso III, fica estabelecido que as propostas pedagógicas deverão respeitar os princípios, éticos, políticos e estéticos, destaca-se o princípio estético, o qual se refere a dimensão “da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais”.
E, ainda garantir:
Art. 7º inciso IV - (...) acesso a bens culturais e às possibilidades de vivência da infância;
Art. 8º incisos II - a indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, linguísitica, ética, estética e sociocultural da criança;
VII – a apropriação pelas crianças das contribuições histórico-culturais dos povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros países da América;
IX – o reconhecimento, a valorização, o respeito e a interação das crianças com as histórias e as culturas africanas, afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e à discriminação;
Art. 9º incisos II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;
VI - possibilitem vivências ética e estética com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidade no diálogo e reconhecimento da diversidade;
IX - promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura;
XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras (grifo nosso).
Portanto, almeja-se para a Educação Infantil um trabalho pedagógico que se constitua em oportunidades materiais concretas para ampliar os conhecimentos artísticos das crianças, que abarque o sensível e o inteligível; a disseminação da cultura e a não dicotomização entre o conhecimento científico e artístico. Nessa perspectiva, as práticas pedagógicas deverão transcender os muros da instituição, as salas de atividade e assumir novos espaços, como os museus, os teatros, as galerias de arte, as praças, o cinema, entre outros, onde a arte dialogue com os nossos olhares, com as nossas sensações e percepções, com nossas emoções, nossos ideais e valores.
Pensar e repensar práticas pedagógicas para a Educação Infantil não é uma questão nova, mas um exercício de reflexão sobre as condições materiais concretas para alcançá-la, pois esta envolve políticas públicas a nível nacional e local de valorização e divulgação das produções culturais e artísticas. Nessa perspectiva, é preciso que as práticas pedagógicas da Educação Infantil reconheçam a arte como área do conhecimento e que diante das determinações constantes das Dcnei/09 faz-se necessário propor Propostas Político-Pedagógicas e Projetos Pedagógicos capazes de sensibilizar, embevecer com a produção artística e cultural, aproximar e conhecê-la, estudá-la e democratizá-la com as crianças, de forma prazerosa, cheia de vida, dinamicidade, e movimento e não uma obrigação a ser cumprida, destituída de sentido e significado.
Nesse contexto, tem-se como desafio possibilitar elementos para que homens, mulheres, crianças, tenham acesso, desfrutem e deem continuidade às diferentes linguagens artísticas e expressões culturais produzidas, pois como afirma Vygotsky (1994) o ser humano se constitui é na relação com outro, no diálogo, na tensão, na complexidade, na alteridade, produzindo e sendo produzido pelo contexto social e cultural, portanto é nesse movimento dialético e dialógico que o sujeito transforma o meio sociocultural, é constituído por ele e nesse movimento se autotransforma. Logo o outro, sua história, sua cultura e em especial suas produções artísticas são elementos essenciais na constituição e formação das crianças, dos professores e professoras.
Outro desafio na apropriação e nas práticas pedagógicas com foco no conhecimento artístico é desconstruir o imaginário de que a arte está vinculadas a meros procedimentos metodológicos e recursos capazes de tornar as práticas educativas mais agradáveis, à subordinação da arte e da produção cultural a assunto/conteúdos/atividades “considerados” de maior importância, tais como: as datas comemorativas, a elaboração de painéis, ao controle do comportamento das crianças, para acalma-las, entre outros. Tais elementos sinalizam a necessidade de ressignificação e reconstrução do sentido e do significado do conhecimento artístico tanto no âmbito das políticas públicas, quanto na formação inicial e continuada dos professores e professoras.
Conforme Snyders (1988) é preciso compreender que o conhecimento artístico e cultural se constitui como um direito de todos, portanto envolvem luta de classes com vistas a garantir que as produções artísticas e culturais façam parte da vida cotidiana dos homens, mulheres e crianças. Sabe-se que a arte no contexto educacional não tem sido compreendida como área do conhecimento, como um elemento cultural enriquecedor da formação humana, embora estudos no campo da educação já venham sinalizando a necessidade de uma formação omnilateral, isto é, uma educação integral, que abranja as dimensões intelectuais, criativas, estéticas, expressivas, emocionais e éticas.
Portanto, a formação continuada em “Educação Infantil, Infância e Arte” teve como orientação didático-metodológica a reflexão conceitual acerca da arte como conhecimento e patrimônio histórico da humanidade, o debate acerca da Proposta Triangular (Barbosa/2002), fruir/apreciar, contextualizar/historizar e fazer/produzir arte e a ressignificação metodológica do trabalho artístico com crianças de 0 a 6 anos de idade. Conforme Rizzi (2001):
A proposta triangular permite uma interação dinâmica e multidimendional, entre as partes e o todo e vice-versa, do contexto do ensino da Arte, ou seja, entre as disciplinas básicas da área, entre as outras disciplinas, no inter-relacionamento das três ações básicas: ler, fazer e contextualizar e no inter-relacionamento das outras três ações decorrentes: decodificar/codificar, experimentar, informar e refletir (p.70).
Assim, para autora em referência ler obras de arte envolve o questionamento, a busca, a descoberta e o despertar da capacidade crítica, que superem o reducionismo certo/errado, bonito/feio, mas critérios como pertinência, coerência, possibilidade, esclarecimento, abrangência, entre outros. O importante é ressaltar que o objeto de interpretação é a obra. Como entendem os quadros? O que procuram neles? O que sentem? Envolvem, portanto, preferências, beleza e realismo, expressividade, estilo e forma e autonomia. O fazer arte, deve ser compreendido como um espaço de criação, vivência da prática artística. Nela, entram em jogo recursos pessoais, habilidades, pesquisa, técnica e imaginação. E o contextualizar pressupõe a compreensão de que o objeto artístico é produto cultural e estético, um documento do imaginário humano que possui sua historicidade e é fruto da diversidade humana.
A reflexão conceitual se constitui pelo estudo dialogado sobre a arte, sua importância na sociedade e na formação humana. Buscou-se nesse processo mediar a experiência cotidiana dos professores com a arte, seus gostos e vivencias com os conhecimentos sistematizados. Nessa a Proposta Triangular foi eixo central para ampliar as experiências e vivencia artística dos professores professoras e das crianças. Para tanto, realizou-se visitas a museus, apresentação de filmes, clips, debates sobre as manifestações da cultura popular local e outros, assim como o trabalho verticalizado com os grandes Mestres da pintura – por meio da apreciação de imagens e estudo da história da arte e vivência do fazer artístico.
Essa proposta desenvolveu-se inicialmente com os professores e professoras da Educação Infantil, com vista a ampliar seus próprios repertórios artísticos e culturais, como pode-se perceber nas ilustrações a seguir:



A ressignificação metodológica se realizou por meio do estudo sobre a arte, as artes visuais e a infância no cotidiano da educação da infância. Foram realizados debates conceituais e metodológicos, os quais priorizaram o reconhecimento da realidade vivenciada nas instituições, as imagens, os conceitos estéticos, a padronização e o fazer artístico que se faziam presentes nas instituições, isto é, repensar espaços, materiais, obras, técnicas, leituras, visitas, entre outros. Os desafios propostos aos professores e professoras ajudaram a apropriação de novos conhecimentos e no redimensionamento do trabalho pedagógico em arte.
Destacamos alguns questionamentos que foram decisivos: É possível ampliar o repertório artístico-cultural das crianças, quando o próprio professor tem seu repertório artístico-cultural limitado? Como considerar na criança e propor a ela aquilo que não faz parte do seu próprio acervo do professor? O que as atividades artísticas propiciam às crianças? As crianças da Educação Infantil precisam conhecer os artistas e suas obras? Visitar museus? Será que o temos ensinado é arte? Esse trabalho formativo possibilitou aos professores e professoras da Educação Infantil discutir, refletir e problematizar o sentido da arte na sua própria formação, na formação das crianças e a importância de proporcionar vivências artísticas significativas para as crianças. Nas palavras dos professores e professoras:
- Esta formação me levou a ver a arte com outro olhar e reconhecê-la como necessária na Educação Infantil; Estas disciplinas foram produtivas, aprendi sobre arte, pintores, técnicas. Precisamos nos aprimorar mais para termos uma boa bagagem para oferecer as nossas crianças.
- Esses encontros me fizeram refletir e mudar mina maneira de agir, pensar e principalmente a maneira de trabalhar com as crianças, tenho que ampliar meus conhecimentos e apreciar com maior intensidade para despertar em meus alunos o gosto pela arte (…)
- Aprendi apreciar uma obra de arte através das exposições que foram organizadas, esse momento foi incrível.
- Novos métodos de trabalho com as crianças e experiências que irão contribuir para uma prática mais interessante. Aprendendo a singularidade da criança em relação à arte, além da oportunidade de nos professores desenvolver a nossa criatividade.
- O trabalho de arte com a criança da educação infantil deve envolver o conhecimento de artes visuais, despertar esse novo olhar, imaginação, criatividade, apreciação estética, liberdade e oportunidade de expressão.
- Aprendi no curso de formação continuada que arte não é dar o desenho pronto, mandar a criança pintar sem algum objetivo, é preciso vivenciar múltiplas linguagens, argila, tela, tintas, obras de arte, apresentar uma dança, visitar um museu, convidar um artista plástico e fazer uma palestra com crianças e tantas outras coisas.
- Eu mesma consegui planejar e por em prática uma aula de arte com minhas crianças. Usei sobras de materiais usados em colagens e pinturas, eles confeccionaram variadas obras de arte.
Portanto, pode-se inferir que o processo de formação continuada de professores da Educação Infantil desenvolvido no curso Educação Infantil, Infâncias e Arte, em especial as disciplinas de Educação Estética, Arte e Infância e Artes Visuais na Educação Infantil, contribuiu de forma significativa na formação dos professores e professoras e que o trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças superou as práticas mecanizadas e descontextualizadas ainda presente. Construir um fazer artístico com as crianças da Educação Infantil exigiu a elaboração de projetos educativos, com objetivos e conteúdos artísticos, uma metodologia de trabalho que envolveu o poetizar, a fruição e o conhecer arte, isto é, proporcionou às crianças experiências e vivência com artistas e suas obras, a experimentação de múltiplas formas de expressar em diferentes espaços e ainda com diferentes recursos e materiais. Para tanto, foi necessário estudo, pesquisa, ampliação de seus próprios repertórios culturais, estéticos e artísticos.
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