POLÍTICAS PÚBLICAS E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM SERVIÇO: O PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR) NA GESTÃO MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO

ResumoO texto apresenta considerações referentes à pesquisa que está sendo realizada sobre os programas de formação de professores em serviço na perspectiva do regime de colaboração, vinculados ao Plano de Ações Articuladas (PAR). É uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, que envolve o estudo de documentos oficiais relacionados à formação de professores e a utilização de entrevistas semiestruturadas com os sujeitos envolvidos nos programas em dois municípios da mesorregião do sul fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Resultados preliminares indicam que o PAR é um importante instrumento de planejamento, mas que precisa refletir de maneira mais significativa, as demandas de formação locais.

Palavras-chave: Formação de professores; políticas; ações articuladas.


INTRODUÇÃO

É notório que a formação e valorização de professores, na década de 90, principalmente a partir da Lei 9394/96, ocupa papel relevante nas políticas educacionais. Indicativos disso podem ser percebidos nos inúmeros debates, iniciativas e documentos oficiais emanados pelo poder central a partir de então.

As soluções de amplo impacto para os problemas educacionais, principalmente na América Latina passam a ser buscadas e a formação docente é vista como um elemento importante para as mudanças educacionais.

A formação e valorização do professor está presente na legislação referente ao financiamento da educação, na Lei 9.424 de 24 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996) que definiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) revogada posteriormente pela Lei nº 11.494 de 20 de junho de 2007 (BRASIL, 2007), que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB).

A lei do FUNDEB estabelece que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem implantar planos de carreira e assegurar a remuneração condigna dos professores, integrar o trabalho dos mesmos à proposta pedagógica da escola e melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem. Também estabelece que os planos de carreira deverão contemplar capacitação profissional especialmente voltada à formação continuada.

Em 2002, o MEC lançou os Referenciais para Formação de Professores - RFP (SEF/MEC, 1999) que apresenta como finalidade “provocar e, ao mesmo tempo, orientar transformações na formação de professores”. (p. 15). Faz referência à formação continuada como necessidade intrínseca para os profissionais da educação escolar e como um processo permanente de desenvolvimento profissional que deve ser assegurado a todos (p. 70).

A perspectiva de formação continuada proposta no documento esta ligada à existência dos projetos educativos nas escolas de educação básica podendo acontecer no trabalho sistemático dentro e fora da escola... As secretarias de educação são apresentadas com um papel fundamental na organização e promoção da formação continuada... (p.71)

O Plano Nacional de Educação (PNE), estabeleceu metas a serem alcançadas no prazo de dez anos e se constituiu como base para a elaboração dos planos decenais de educação dos Estados, Distrito Federal e Municípios.

O item 10 tratou sobre a Formação de Professores e Valorização do Magistério e enfatizou que a melhoria da qualidade do ensino, um dos objetivos centrais do Plano Nacional de Educação, somente poderia ser alcançada se fosse promovida, ao mesmo tempo, a valorização do magistério, e que a qualificação do pessoal docente era um dos maiores desafios necessitando da dedicação prioritária do Poder Público para a solução deste problema.

Esse documento menciona que a formação continuada assume particular importância, em decorrência do avanço científico e tecnológico e de exigência de um nível de conhecimentos sempre mais amplos e profundos na sociedade moderna, e assim, deveria dar especial atenção à formação permanente (em serviço) dos profissionais da educação. Formação essa, que deveria ser garantida pelas secretarias estaduais e municipais de educação em parceria com universidades e instituições do ensino superior.

Com o objetivo de institucionalizar e organizar a demanda crescente da formação continuada de professores, estimulada nos próprios documentos oficiais, em junho de 2004, o MEC, constituiu a Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica, que vinha sendo desenvolvida pelo MEC/SEB (Sistema de Educação Básica) desde 2003. Tem como finalidade contribuir com a qualidade do ensino e com a melhoria do aprendizado dos estudantes por meio de um amplo processo de articulação dos órgãos gestores, dos sistemas de ensino e das instituições de formação, sobretudo, as universidades públicas e comunitárias (BRASIL, 2006).

Em 2006, o MEC lançou o “Catálogo da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores da Educação Básica” (BRASIL, 2006) que apresentava as orientações gerais, os objetivos, princípios, diretrizes e funcionamento da rede, bem como os materiais pedagógicos desenvolvidos pelos Centros nos dois primeiros anos de convênio.

Também em 2006 o Conselho Nacional de Educação aprovou a Resolução nº 1, de 15/05/2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura (BRASIL. MEC/CNE, 2006).

A Resolução atribui ao Curso de Licenciatura em Pedagogia a formação de professores para a Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, para os cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.

O processo de definição das Diretrizes do curso passou por uma indefinição generalizada, inúmeros documentos foram produzidos e enviados ao CNE. Foram longos anos de debates efervescentes e de disputa entre os grupos favoráveis aos Institutos Superiores (ISEs) de Educação e as Escolas Normais Superiores (ENS) e os defensores da formação de professores para os anos iniciais do ensino fundamental e educação infantil nos cursos de Pedagogia.

Em março de 2007 foi apresentado o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que foi lançado oficialmente em 24 de abril, junto com o “Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação”, com a promulgação do Decreto nº 6.094.

O documento “Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas”, afirma que o PDE está sustentado em seis pilares: visão sistêmica da educação, territorialidade, desenvolvimento, regime de colaboração, responsabilização e mobilização social. Menciona também, que a “melhoria da qualidade da educação básica depende da formação de seus professores, o que decorre diretamente das oportunidades oferecidas aos docentes”. E assim, apresenta como um dos seus pontos principais “a formação de professores e a valorização dos profissionais da educação”.

O decreto 6.094 de 24/04/2007 dispõe sobre a implementação do plano pela União, em regime de colaboração com os Municípios, Distrito Federal e Estado, mediante programas e ações de assistências técnica e financeira visando a melhoria da qualidade da educação básica.

Dentre as vinte e oito diretrizes a serem implementadas pelos Municípios, Distrito Federal e Estado, com incentivo e apoio da União, está “instituir programa próprio ou em regime de colaboração para formação inicial e continuada de profissionais da educação”.

A assistência técnica e financeira da União aos entes federados, estaria vinculada a adesão ao compromisso ao Plano de Metas, observados os limites orçamentários da União, tendo como critérios de prioridade a possibilidade de incremento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IBED e a capacidade financeira e técnica do ente apoiado. O apoio também se daria mediante elaboração do Plano de Ações Articuladas (PAR).

O PAR é definido como “planejamento multidimensional da política de educação que os municípios, os estados e o Distrito Federal devem fazer para um período de quatro anos http://www.fnde.gov.br/programas/par/par-apresentacao. Está estruturado em quatro grandes dimensões: 1- Gestão Educacional; 2- Formação de Professores e dos Profissionais de Serviços e Apoio Escolar; 3- Práticas Pedagógicas e Avaliação; e 4- Infraestrutura física e Recursos Pedagógicos, e será melhor detalhado num tópico específico do texto.

Ao preencher o instrumento diagnóstico, os gestores municipais definem as prioridades referentes à formação de seus docentes e a partir desta demanda, uma das ações de formação em serviço, se dá pela oferta de vagas na “Plataforma Freire” em Cursos de Licenciatura, programas de Segunda Licenciatura e Formação Pedagógica.

Para concorrer a uma vaga nos cursos ofertados pela universidades conveniadas, o docente deveria realizar a pré-inscrição na plataforma, estar cadastrado no Educacenso na função docente da rede pública de educação básica e ter sua pré-inscrição validada pela Secretaria de Educação a qual pertence. A vinculação entre o PAR e a oferta de vagas para professores das redes públicas começou com a publicação do Decreto Federal nº 6.755, de 29 de janeiro de 2009, que instituiu a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica (PARFOR) e disciplinou a atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no fomento a programas de formação inicial e continuada de professores.

O PARFOR tem como finalidade organizar a formação inicial e continuada dos profissionais do magistério para as redes públicas da educação básica, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.

Para cumprir esse objetivo, o mesmo decreto, criou os Fóruns Estaduais Permanentes de Apoio à Formação Docente, cuja função é formular os planos estratégicos, contemplando o diagnóstico e a identificação das necessidades de formação dos profissionais do magistério e da capacidade de atendimento das instituições públicas de ensino superior envolvidas; as ações para o atendimento de formação inicial e continuada, nos diferentes níveis e modalidades de ensino; e as atribuições e responsabilidades, inclusive financeira, de cada partícipe.

Posteriormente, o MEC analisa e aprova os planos estratégicos apresentados pelos fóruns, considerando a legislação sobre a concessão de bolsas de estudo e pesquisa para professores e o apoio financeiro aos entes federados e instituições de educação superior selecionadas para implementação de programas e cursos de formação inicial e continuada, considerando as etapas, modalidades, tipo de estabelecimento de ensino, bem como a distribuição regional e demográfica do contingente de profissionais do magistério a ser atendido.

O Plano Nacional de Educação 2014-2024, o segundo PNE aprovado pela Lei nº 13.005 de 25 de junho de 2014, (BRASIL, 2014) estabelece 10 diretrizes e 20 metas com suas estratégias a serem desenvolvidas no prazo de vigência do mesmo.

As metas 14 e 15 tratam especificamente da formação de professores da educação básica e são propostas treze estratégias para atingir a meta 15 e seis para a meta 16. É importante ressaltar que algumas outras metas, também apresentam estratégias referentes à formação de professores.

Em 2015, a Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015, (BRASIL, 2015) define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduandos e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada.

Também prevê que está formação deve ser “assumida em regime de colaboração pelos entes federados nos respectivos sistemas de ensino e desenvolvida pelas instituições de educação credenciadas” (Art.3º, § 3º).

A Resolução dedica o Capítulo VI à Formação Continuada dos Profissionais do Magistério. No Art. 16 preconiza que a “formação continuada compreende dimensões coletivas, organizacionais e profissionais” e formaliza no Art. 17 que “a formação continuada deve se dar pela oferta de atividades formativas e cursos de atualização, extensão, aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado”, discriminando-os em sete incisos no § 1º.

Outro aspecto relevante na Resolução refere-se a destinação de 1/3 da carga horária de trabalho a outras atividades pedagógicas inerentes ao magistério, dentre as quais, estão incluídas as atividades formativas, previstas no § 3º do Art. 18 que trata da garantia de políticas de valorização dos profissionais do magistério,

Portanto, é inegável que a partir da década de 90, a formação e valorização do professor da educação básica tiveram centralidade nas políticas educacionais. No parecer de Freitas (2014, p. 277)

as políticas públicas desenhadas na última década trataram fundamentalmente de criar o arcabouço legal – normatizações e regulações – para a formação e valorização profissional dos quadros do magistério da educação básica, com o objetivo de elevar as políticas de formação a outro patamar.

Do mesmo modo, o regime de colaboração, preconizado na Constituição de 88, afirmado e reafirmado nas legislações, documentos e planos de educação, subsidiando também a formação de professores em serviço, não está claramente definido nem regulamentado nesses aportes legais.

Assim, alguns questionamentos se fazem necessários: De que modo as políticas de colaboração entre os entes federados vêm contribuindo com a formação de professores em serviço na gestão pública municipal? Como os programas são implementados? Em que medida essas políticas refletem as necessidades locais e a busca de estratégias de superação? Os programas de formação de professores em serviço e a sua implementação nos municípios estão realmente coordenados entre si?

OS SUJEITOS E OS PROCEDIMENTOS DA PESQUISA: BREVE CARACTERIZAÇÃO

Face a esses questionamentos, é que se insere esta pesquisa sobre a formação de professores em serviço e o regime colaborativo no contexto de dois municípios da mesorregião do sul fluminense do Estado do Rio de Janeiro.

O objetivo da pesquisa é analisar as condições políticas e metodológicas de implementação dos programas de formação de professores municipais em serviço por meio do regime de colaboração entre a União e os entes federados, em dois municípios da mesorregião do sul fluminense. E tem como objetivos específicos, identificar os projetos de formação de professores em serviço desenvolvidos nos dois municípios e sua vinculação ao regime de colaboração e as políticas locais de formação; e examinar as implicações educativas dos programas desenvolvidos pela gestão municipal, por meio do regime de colaboração, no enfrentamento das necessidades locais.

Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo em andamento, caracterizada pela descrição e análise dos significados que os sujeitos pesquisados dão para os fatos e fenômenos que estão sendo estudados.

Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico, a partir de publicações e artigos científicos que oferecem a contribuição de diferentes autores para a fundamentação conceitual e análise do tema, e também, um estudo de documentos oficiais sobre os programas de formação continuada, como guias de formação, manuais dos programas, resoluções, pareceres, portarias, dados disponibilizados no site do MEC, instrumentos diagnósticos, índices demográficos e educacionais dos municípios pesquisados.

Num segundo momento, deu-se início as entrevistas com os gestores da educação municipal, com os responsáveis pelo Plano de Ações Articuladas (PAR) , com os coordenadores e orientadores de estudos envolvidos nos programas desenvolvidos nos municípios.

A mesorregião do sul fluminense é uma das seis mesorregiões do Estado do Rio de Janeiro, com área de 7.918,501 km² e população estimada em pouco mais de 1 milhão de habitantes, conforme dados do IBGE.

Foram escolhidos para a pesquisa os municípios vizinhos de Barra do Piraí e Piraí, que apesar de serem muito próximos um do outro e ficarem em média a uma distância de 100 km do grande centro urbano, a cidade do Rio de Janeiro, são bastante diferentes. Segundo os dados do censo IBGE/2010, Barra do Piraí possui 96.478 habitantes, com a população estimada em 2014 de 96.568, o seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é de 0,733, sendo o 20º no ranking do estado. Piraí possui 26.314 habitantes, com a população estimada em 2014 de 27.579, o seu IDHM é de 0,708, 54º no ranking do estado de acordo com os dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano PNUD/2010.

Os dois municípios vivenciaram o processo de municipalização do ensino fundamental a partir dos anos 90. Do total de escolas hoje sob a responsabilidade do município, aproximadamente 40% eram escolas estaduais que foram municipalizadas.

Pelo Censo Educacional 2012 Fonte: Ministério da Educação, Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais INEP. Censo Educacional 2012. , Barra do Piraí possui no ensino fundamental municipal 5.542 matrículas, 311 docentes e 28 escolas; no pré-escolar (educação infantil) 1630 matrículas, 120 docentes e 22 escolas. Piraí apresenta no ensino fundamental municipal 4.038 matrículas, 271 docentes e 16 escolas; no pré- escolar 819 matrículas, 70 docentes e 13 escolas.

Esses municípios apresentam os seguintes resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB:

Fonte: Elaborado a partir das informações do Resultado IDEB por Município e Rede 2005, 2007, 2009, 2011, 2013 http://portal.inep.gov.br/
Tabela 1- IDEB dos munícipios de Barra do Piraí e Piraí
Anos Iniciais do Ensino Fundamental
Resultados Projeções
2005 2007 2009 2011 2013 2007 2009 2011 2013
Barra do Piraí 4,0 4,0 4,3 4,5 4,6 4,1 4,4 4,8 5,1
Piraí 4,2 4,8 4,9 5,2 5,1 4,3 4,6 5,0 5,3
Anos Finais do Ensino Fundamental
Barra do Piraí 3,9 2,9 4,1 4,7 4,6 3,9 4,0 4,3 4,7
Piraí 4,0 3,9 4,1 4,5 4,6 4,0 4,2 4,5 4,9

O resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB de 2013 dos anos iniciais do Ensino Fundamental destes municípios está localizado na faixa de 4,6 a 5,1 e nos anos finais do Ensino Fundamental, os dois apresentam o índice de 4,6.

Percebe-se que em 2013 nos anos iniciais, comparado com o IDEB de 2011, houve um crescimento de 0,1 no município de Barra do Piraí e um decréscimo do mesmo valor em Piraí. Nos anos finais ocorreu um crescimento de 0,1 em Piraí e um decréscimo no mesmo valor em Barra do Piraí. Nenhum dos dois munícipios atingiram os índices projetados.

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM SERVIÇO NO CONTEXTO DO PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR)

Ao aderir ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, assumindo a responsabilidade de promover a melhoria da qualidade da educação básica, os municípios passaram a elaborar o Plano de Ações Articuladas (PAR), um dos programas constituintes do PDE.

Segundo o MEC, o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação

inaugurou um novo regime de colaboração, conciliando a atuação dos entes federados sem lhes ferir a autonomia, envolvendo primordialmente a decisão política, a ação técnica e atendimento da demanda educacional, visando à melhoria dos indicadores educacionais. (http://portal.mec.gov.br/par)

A assistência técnica e financeira do MEC aos Municípios, Estados e Distrito Federal, ficam vinculados à adesão ao Compromisso Todos pela Educação, por meio da assinatura do Termo de Adesão ao Plano de Metas.

O primeiro ciclo do PAR foi no período 2008-2011, uma nova etapa aconteceu de 2011 a 2014 e outra fase será 2016-2019, conforme anúncio feito em janeiro, na solenidade de instalação da instância permanente de negociação federativa e do lançamento do novo ciclo do PAR, na sede do Ministério da Educação, segundo informações disponibilizadas no site http://undime.org.br/noticia/28-01-2016-11-49-undime-participa-do-lancamento-do-novo-ciclo-do-par-em-brasilia da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), entidade participante na solenidade.

Para auxiliar a elaboração do PAR, o MEC criou o Sistema Integrado de Planejamento, Orçamento e Finanças do Ministério da Educação (SIMEC), que pode ser acessado de qualquer computador conectado à internet. Oferece também para orientação ao município, o Instrumento Diagnóstico – PAR Municipal 2011-2014, Manual de Elaboração do PAR Municipal e Guia Prático de Ações do PAR Municipal Todos os manuais disponíveis em http://portal.mec.gov.br/component/content/98-programas-e-acoes-1921564125/par-plano-de-acoes-articuladas-1385230660/157-como-elaborar-o-par?Itemid=174 , além das equipes técnicas do MEC e do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE) que prestam assistência aos municípios.

A elaboração do PAR é dividida em três etapas: a aplicação do instrumento do diagnóstico da situação educacional na rede municipal, a elaboração do plano de ações e a análise técnica feita pela Secretaria de Educação Básica SEB/MEC e FNDE.

Inicialmente o município realiza um diagnóstico detalhado da realidade educacional local, pautado nas quatro grandes dimensões que compõem a estrutura do PAR: gestão educacional; formação de professores e profissionais de serviços e apoio escolar; práticas pedagógicas e avaliação; infraestrutura física e recursos pedagógicos. Cada dimensão é composta por áreas de atuação e cada área apresenta indicadores específicos que são pontuados segundo a descrição de critérios correspondentes a quatro níveis. A realidade observada e avaliada é expressa nesses indicadores, e os critérios de pontuação 1 e 2, que representam situações insatisfatórias ou inexistentes, podem gerar ações a serem desenvolvidas pelo município, envolvendo a utilização de recursos financeiros ou de assistência técnica do MEC.

Para esse diagnóstico a coleta de informações deve ser feita a partir da discussão entre os membros da equipe técnica local composta pelo Dirigente Municipal de Educação; técnicos da secretaria municipal de educação; representante dos diretores de escola; representante dos professores da zona urbana; representante dos professores da zona rural; representante dos coordenadores ou supervisores escolares; representante do quadro técnico-administrativo das escolas; representante dos conselhos escolares; representante do Conselho Municipal de Educação. São 82 indicadores a serem pontuados segundo a descrição de critérios correspondentes a quatro níveis de pontuação.

Após o diagnóstico, inicia-se a segunda etapa, e de acordo com a pontuação atribuída aos indicadores, o sistema gera, automaticamente, ações e subações que poderão compor o PAR do município. Cabe a equipe local, subsidiada pelo Guia Prático de Ações, definir essas ações e subações a fim de que o município busque atingir a pontuação máxima em cada indicador.

A terceira etapa é a análise técnica, feita pela SEB/MEC e pelo FNDE. Após análise, os municípios assinam o termo de cooperação com o MEC, onde constam os programas aprovados e classificados segundo a prioridade municipal, nas quatro dimensões que compõem o PAR.

Nesse cenário estão incluídas as ações na dimensão da formação de professores em serviço.

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Pode-se perceber, em meio aos embates, polêmicas e contradições que atravessam a política educacional, como ponto comum na consolidação da legislação e regulamentação das políticas de formação dos professores, o estabelecimento de ações dos entes federados com vistas ao alcance das metas de elevação do IBED, enfatizando o protagonismo docente.

De um lado, amplia-se a legislação visando a formação e a valorização do professor e por outro, aprofundam-se os processos de controle e regulação do trabalho docente, principalmente por meio de políticas indutoras como a avaliação do desempenho de estudante, muitas vezes, vinculando os resultados à concessão de bônus, numa concepção meritocrática.

Tudo isso nos leva a questionar se essas políticas efetivamente contribuem para o desenvolvimento profissional do professor e para a melhoria da educação municipal ou são usados para definir um padrão educacional verticalizado, sob o discurso da descentralização sob o regime de colaboração.

A adesão ao PDE e elaboração do PAR é pré-requisito para o apoio financeiro e técnico do Governo Federal aos municípios para o desenvolvimento da escola básica. Bello (2011) cita como aspectos positivos do PAR a possibilidade dos recursos chegarem a todos os municípios do país e de ter sido pensado para quatro anos, o que estimula a ideia de planejamento conjunto entre estado e municípios. E considera a grande extensão territorial do país e a centralização do poder nas mãos do gestor local, como elementos dificultadores.

Na pesquisa constatou-se que os dois municípios, Barra do Piraí e Piraí, aderiram ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação e elaboraram o Plano de Ações Articuladas, já no primeiro ciclo 2008-2011. É possível acessar a Síntese do Indicador do PAR, a Síntese da Dimensão do PAR, o Termo de Cooperação e a Liberação de Recursos (FNDE) dos municípios, deste período, no Relatório Público http://simec.mec.gov.br/cte/relatoriopublico/principal.php , disponibilizado pelo SIMEC.

Pelas informações obtidas nas entrevistas, os dois municípios participaram do “Gestar” e “Pró-Letramento” e estão participando do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), programas de formação de professores em serviço em parceria com o governo federal.

No parecer de Durli, Nardi e Schneider (2011), o PAR é uma estratégia de controle e regulação da ação dos munícipios por meio de orientações padronizadas em cada etapa de sua construção e ao MEC, cabe decidir, o que é importante e passível de apoio técnico e financeiro, “as necessidades dos municípios no tocante a formação inicial e continuada e a valorização de seus professores tornam-se reféns das coincidências nas prioridades estabelecidas” (p.5).

É possível perceber pela metodologia de elaboração do PAR, que apesar de proporcionar ao município a realização de um diagnóstico local participativo, a identificação de suas fragilidades, a definição de prioridades, a possibilidade de monitoramento das ações e de apoio técnico e financeiro do governo federal, há pouca autonomia dos municípios para indicar suas metas e ações de formação de professores.

Na análise de Mendes (2011), apesar do termo “ações articuladas”, o regime de colaboração não se efetiva concretamente, o que ocorre é uma “descentralização pela via da desconcentração em que os Estados e municípios assumem apenas função executora de serviços” (p.11).

Entretanto é relevante também destacar que a oferta dos programas oriundos do PAR são importantes para os municípios, pela possibilidade que representa para “deflagrar o debate sobre os efeitos da formação de professores em serviço no cotidiano da sala de aula, na reorganização curricular e para o incremento do surgimento de programas de formação em serviço locais no país afora” (SANTOS, 2011).

A pesquisa apontou que apenas o PNAIC, programa de formação de professores em serviço em parceria com o governo federal, está sendo desenvolvido nos dois municípios, e que a despeito das dificuldades de continuidade nesta parceria, oriundas de questões orçamentárias, enfrentadas em 2015, o programa tem importante relevância, segundo os sujeitos entrevistados.

Em meio a toda essas considerações e as falas dos sujeitos entrevistados, o que foi possível inferir até o momento na pesquisa, indica que o PAR é um importante instrumento de planejamento, mas que precisa, principalmente no que tange à formação de professores em serviço, refletir de maneira mais significativa as demandas locais.

Vale ressaltar que a pesquisa ainda não está concluída, e algumas análises ainda estão em fase de elaboração.

REFERÊNCIAS

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