EVASÃO NAS LICENCIATURAS DE FILOSOFIA E TEATRO DA UFT: PERCEPÇÃO DE GESTORES DA ADMINISTRAÇÃO SUPERIOR E DOS CURSOS
Resumo: Este artigo busca explicitar a evasão nos Cursos de Filosofia e Teatro da UFT na percepção institucional. A pesquisa articulou estudo bibliográfico e entrevistas envolvendo os gestores da administração superior e dos cursos. O estudo constatou que a evasão na educação nas universidades ainda é pouco estudada. Foi evidenciado, no Brasil e na UFT, o aumento do número de matrículas, mas que as taxas de evasão permanecem altas. Segundo a literatura estudada, este fenômeno é motivado por fatores internos: infraestrutura, corpo docente e programas de permanência; e externos: razões socioeconômicas, decisão equivocada pela escolha curso e insatisfação com a futura profissão etc. Na UFT não há ainda diagnósticos consistentes e ações planejadas para o combate efetivo da evasão.
Palavras-chave: Licenciatura na UFT; Evasão nos cursos Filosofia e Teatro; Percepção institucional.
INTRODUÇÃO
O presente artigo foi elaborado tendo por base os resultados do subprojeto de pesquisa “a percepção institucional sobre a evasão escolar absoluta nos cursos de Licenciaturas em Artes/Teatro e Filosofia da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus de Palmas, na percepção dos gestores da administração superior e dos cursos”. O referido subprojeto de pesquisa integra o macroprojeto denominado de Evasão nos Cursos de Artes e Filosofia/Palmas e Pedagogia/Miracema: a percepção institucional e da comunidade universitária. Tomando como referência o macroprojeto de pesquisa sobre o qual este subprojeto faz parte, foi observado inicialmente uma evasão absoluta considerável nos Cursos de Licenciaturas em Artes/Teatro (48%) e Filosofia (52%) tendo em vista a entrada de 40 estudantes no Curso de Artes e 41 estudantes no Curso de Filosofia do Campus Universitário de Palmas.
Com a referida pesquisa buscamos, em geral, compreender a evasão escolar absoluta no Curso de Licenciatura em Artes/Teatro e Filosofia na percepção institucional: gestores da administração superior e dos cursos. Especificamente, o estudo procurou: revelar as dimensões quantitativa e qualitativa da evasão no Brasil e na UFT; apreender os pressupostos teórico-práticos da política e gestão da UFT a partir da ótica dos gestores da UFT: Reitores, Pró-Reitores e Coordenadores de Curso; verificar qual a perspectiva de educação e gestão é adotada nos setores de apoio ao estudante da UFT, quais sejam: Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis; Serviço Social; Programa de Apoio Psicopedagógico e Coordenações dos Cursos de Artes e Filosofia da UFT; e identificar as causas e o impacto da evasão escolar absoluta na percepção institucional: gestores da administração superior e dos cursos de Licenciaturas em Artes e Filosofia, objeto do estudo.
Na realização da pesquisa que culminou com os dados utilizados neste texto foi feito: seleção, leitura e fichamento de textos sobre a evasão no Brasil com a finalidade de proceder a revisão bibliográfica; realização de pesquisa documental sobre a evasão na educação superior no Brasil e na UFT a partir do estudo dos seguintes documentos: leis, portarias, atos, planos, Projetos Pedagógicos dos Cursos de Artes/Teatro e Filosofia, programas, banco de dados e relatórios; e entrevistas com gestores da administração superior e do Campus de Palmas da UFT.
O texto aborda os fundamentos da evasão estudantil na educação superior brasileira, levantamento de dados quantitativos sobre a evasão no Brasil e na UFT, faz apontamentos sobre a política de permanência dos estudantes da UFT; e revela a visão Institucional a respeito da evasão nos cursos de Licenciaturas em Artes/Teatro e Filosofia.
EVASÃO ESTUDANTIL NA EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA: APONTAMENTOS TEÓRICO-PRÁTICOS
A evasão na educação superior brasileira, apesar de atingir todas as IES no Brasil, é pouco estudada, visto que as pesquisas sobre o assunto são escassas a despeito da dimensão e da significância do problema. Segundo Cunha, Tunes e Silva “a evasão de alunos dos cursos de graduação das universidades brasileiras ainda não foi tratada com o rigor e o empenho analíticos necessários ao seu entendimento”. (2001, p. 262)
Em outros países este estudo é mais presente (SILVA FILHO et al., 2007). Contudo, no Brasil, tal temática vem ganhando repercussão, principalmente após o estudo pioneiro feito pela Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras MEC/SISU (1997) que resultou em um conjunto significativo de dados sobre o desempenho das universidades públicas brasileiras relativo aos índices de diplomação, retenção e evasão dos estudantes de seus cursos de graduação.
Segundo esta comissão, “a evasão de estudantes é fenômeno complexo, comum às instituições universitárias no mundo contemporâneo” (1997, p. 18). Tal fenômeno representa um problema não apenas econômico, por significar desperdícios de investimento no setor público e perda de receitas no privado, mas, trata-se, também, de exclusão social CARVALHO, 2010).
Sobre os estudos referente à educação superior, Silva (2013, p. 312) afirma que estes, “em sua maioria, enfocam as questões relativas a sua expansão sob a perspectiva da política pública, quase exclusivamente”, mostrando, assim, que pouco se tem atentado à visão das instituições quanto à evasão.
Sobre os tipos de evasão, a Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas Universidades Públicas Brasileiras MEC/SISU (1997) aponta a existência de três tipos: do curso, da instituição e do sistema. A evasão, em geral, é motivada por vários fatores, que segundo Dias, Theóphilo e Lopes (2010), se dividem em “internos e externos”.
São exemplos de fatores internos: espaço físico, equipamentos, bibliotecas; a falta de interação entre alunos e professores; ausência de apoio psicopedagógico para acompanhamento aos alunos vulneráveis; estrutura curricular inflexível e que não atende as demandas sociais; turno incompatível com o horário que o discente tem disponível para estudar; falta de programas que façam com que o aluno se integre com a instituição em trabalhos de pesquisa e extensão. (DIAS, THEÓPHILO E LOPES, 2010).
Compõe o conjunto dos fatores externos: decisão equivocada quanto à escolha do curso; formação básica com lacunas formativas; insatisfação com o curso e futura profissão; razões socioeconômicas referentes aos problemas financeiros e dificuldade em conciliar estudo e trabalho; distância entre residência e universidade; e problemas de caráter pessoal: falecimento, doença, nascimento de filhos e dedicação ao casamento. (DIAS, THEÓPHILO E LOPES, 2010).
Ao observar os últimos censos da educação superior é evidente o aumento do número de matrículas, entretanto, pesquisas mostram que as taxas de evasão nas instituições brasileiras permanecem altas, como mostra o estudo feito por Silva Filho e Lobo (2012) em que apresentam dados significativos sobre a evasão nos anos de 2001 a 2010.
Nos anos de 2005 a 2009 a taxa de evasão oscilou entre 20 e 22%. Em 2010 há uma queda nesta taxa devido uma alteração metodológica feita pelo INEP em 2009, em que não mais se considerou transferências internas, rematrículas e reabertura de matrículas como outras formas de ingresso (SILVA FILHO et al., 2012).
No entanto, mesmo com uma redução de quase 5% de 2009 a 2010, a taxa de evasão permanece alta tendo como base os dados apontados por Pavão (2014). Nos últimos anos houve um aumento significativo nas vagas ofertas pelas IES de todo país, e, consequentemente, um aumento no número de ingressos, contudo, os dados mostram que não houve redução no número de evadidos.
Como forma de combate à evasão nas IES o governo federal lançou em 2007 o Reuni, que foi instituído pelo Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007 e “apresenta-se como uma das ações que consubstanciam o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE)”. (BRASIL, 2007, p. 04).
O programa tem como meta global alcançar, gradualmente, uma “taxa de conclusão média de 90% nos cursos de graduação presenciais” e “relação de 18 alunos de graduação por professor em cursos presenciais”. Sendo um de seus principais objetivos “dotar as universidades federais das condições necessárias para ampliação do acesso e permanência na educação superior” (IBIDEM, 2007, p. 04).
O programa propõe autonomia por parte das universidades na sua execução, respeitando assim a diversidade das instituições. Busca também uma formação de qualidade, ampla, sólida e interdisciplinar. Como forma de atender tais diversidades foram estruturadas seis dimensões, entre elas destacam-se duas: ampliação da oferta de Educação Superior Pública, que aborda o aumento das vagas em período noturno e a “redução das taxas de evasão” (IBIDEM, 2007, p. 12); compromisso social da instituição, que trata da “redução das taxas de evasão” e “programas de assistência estudantil”. (IBIDEM, 2007, p. 12)
Nesse sentido, a seguir abordaremos a evasão na Universidade Federal do Tocantins, especialmente nos cursos de Licenciaturas em Artes/Teatro e Filosofia, os quais foram criados a partir da implantação do Reuni na UFT.
EVASÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR DA UFT
A UFT foi uma das primeiras universidades federais que aderiu ao Reuni criando um total de 14 cursos de graduação. Observa-se nas metas do projeto Reuni/UFT uma preocupação com a criação de vagas, contratação de profissionais, regularidade de oferta de novas vagas nos processos seletivos e com a elevação da taxa de conclusão médias dos cursos de graduação. (UFT/Reuni, 2007)
Entre as graduações implantadas na UFT estão os cursos de Licenciaturas em Artes/Teatro e Filosofia, pertencentes ao Campus de Palmas. Ambos são ofertados em turno noturno e possuem duração de quatro anos. Tais cursos, em princípio, têm apresentado uma significativa taxa de evasão, contrariando uma das metas do projeto Reuni/UFT que é de “garantir a elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para, no mínimo de 90%, no prazo de cinco anos”. (UFT/Reuni, 2007, p. 04.)
No ano de 2009 a UFT adotou o programa nos campi de Palmas, Gurupi e Araguaína. O artigo 2º das diretrizes gerais do programa tem como primeiro item a “redução das taxas de evasão, ocupação de vagas ociosas e aumento de vagas de ingresso, especialmente no período noturno”. (BRASIL, 2007, p. 28) Em conformidade com esse item a UFT estabeleceu sete metas visando à permanência dos alunos nos cursos de graduação:
I) Manter a regularidade nos processos de ingresso nos cursos de graduação e pós-graduação; II) Desenvolver estudos para identificar as causas da evasão na graduação e pós-graduação; III) Criar 07 comitês, um em cada campus, de apoio psicopedagógico para alunos vulneráveis; IV) Ampliar a participação dos acadêmicos em programas de permanência na instituição; V) Implantar estruturas curriculares mais flexíveis que garantam maior mobilidade acadêmica; VI) Ampliar a oferta de vagas em diferentes turnos para possibilitar a permanência de alunos trabalhadores; e VII) Criar condições aos alunos para uma maior inserção na vida acadêmica da universidade.
As reflexões deste texto parte dos estudos realizados sobre a quantificação da evasão e a prática assistencial realizada pela universidade em busca de garantir a permanência dos estudantes nos cursos. A esse respeito, a Pró-Reitoria de Avaliação e Planejamento (Proap) produziu uma nota técnica expondo dados gerais dos cursos de graduação. Tais dados apresentam “uma primeira sistematização de ordem quantitativa dos resultados dos cursos de graduação da UFT”. (UFT/PROAP, 2013, p. 03) Por sua natureza quantitativa o estudo revela, na compreensão da Pró-Reitoria, a “necessidade de uma complementação qualitativa, construída a partir do entendimento circunstanciado das especificidades de cada curso e de cada campus”. (UFT/PROAP, 2013, p. 03)
A Proap considera que a evasão ocorre de duas formas: “por formatura; e por supressão do vinculo formal com um curso sem a conclusão” (IBDEM, 2013, p. 05). A segunda forma se subdivide em: evasão do curso; evasão do campus; e evasão da instituição.
Pavão (2014) apresenta dados publicados pela Proap acerca da evasão na UFT em geral, entre os anos de 2007 a 2012. Observa-se que a partir de 2009, ano em que foi instituído o Reuni na UFT, passou a haver um aumento gradual do número de alunos evadidos. Com o Reuni buscou-se a criação de 1.000 vagas anuais e a consolidação de uma política de permanência do aluno.
Já os dados fornecidos pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd), (PAVÃO, 2014), apontam uma redução no percentual de alunos evadidos nos anos de 2011 e 2012, se assemelhando ao que ocorre no caso brasileiro. Entretanto, a média calculada dos últimos seis anos é de 16%, o que significa um número elevado em se tratando de uma IES pública.
No segundo semestre de 2009 ingressaram as primeiras turmas dos cursos de Artes e Filosofia da UFT. Como mostra o relatório de pesquisa de Pavão (2014), no curso de Artes ingressaram 40 alunos, destes 22,5% formaram no semestre previsto como apontam dados do Sistema Integrado de Educação – SIE/UFT. No curso de Filosofia, dos 41 matriculados em 2009, 12% formaram em 2013/1.
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE PERMANÊNCIA DOS ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO NA UFT
Com base no Planejamento Estratégico (PE) e o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) a UFT elegeu quatro prioridades institucionais, sendo a primeira delas: “Ambiente de excelência acadêmica”, que trata do “desenvolvimento de uma política de assistência estudantil que assegure a permanência do estudante em situação de risco ou vulnerabilidade” (UFT/CONSEP, 2009, p. 11).
Os Projetos Pedagógicos dos Cursos de Artes/Teatro e Filosofia da UFT apontam que a “profissionalização precoce” é uma das grandes causas da evasão e afirmam que uma “construção curricular em ciclos”, proporciona uma “formação inicial ampla”, o que evitaria tal situação nos cursos. (IBIDEM, 2009, p.34)
Sobre a política de permanência estudantil, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proest), atua como gestora na UFT. Tem como missão a promoção de “ações de combate às desigualdades sociais e regionais, e garantir a ampliação e a democratização das condições de acesso e permanência ao ensino superior público federal”. (UFT/SITE, 2013).Compete à referida Pró-Reitoria:
I) Instituir políticas de assistência estudantil no âmbito da UFT; II) Promover o desempenho acadêmico através de atividades de ensino, pesquisa e extensão; III) Fomentar a participação em eventos científicos, acadêmicos, político-acadêmicos, culturais e desportivos; IV) Apoiar a prática de atividades esportivas; V) Atender às necessidades de moradia e alimentação. (IBIDEM, 2013)
A UFT, sobre a assistência estudantil, segue o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), regulamentado em 19 de julho de 2010, pelo Decreto 7.234/2010. O plano tem “como finalidade ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal”. (BRASIL, 2010. p.5) Nessa direção, como forma de garantir a permanência do estudante, “a UFT/Campus de Palmas tem desenvolvido um conjunto de programas e serviços de assistência e apoio ao aluno” (UFT, s/d. p. 01).
Dentre estes serviços na UFT estão o Programa de Apoio Psicopedagógico (APP) e o Serviço Social. O primeiro “tem como principal objetivo oferecer apoio pedagógico e psicológico aos alunos dos cursos de graduação do Campus de Palmas” (IBIDEM, 2010, p. 03) e desenvolve ações como: projeto acolhimento, que é organizado e desenvolvido em conjunto com o Setor de Serviço Social, e acontece na primeira semana de cada semestre letivo por meio do qual são disponibilizadas informações importantes sobre a instituição e os serviços de apoio ao estudante. O APP oferece oficinas voltadas à reflexões em grupo acerca das habilidades acadêmicas; palestras com temas voltados à trajetória acadêmica do universitário; e atendimento individual: apoio pedagógico e/ou psicológico, de acordo com a demanda do aluno. (IBIDEM, s/d, p. 03)
O Serviço Social é responsável por “desenvolver ações vinculadas a diversos programas de acesso e permanência”. (IBIDEM, s/d. p. 17) Atua também na “identificação, atendimento e acompanhamento das demandas sociais dos estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica”. (IBIDEM, s/d. p. 17)
Dentre as ações desenvolvidas pelo Serviço Social/Campus de Palmas estão: O Programa Bolsa Permanência destinado aos estudantes de graduação em situação de vulnerabilidade socioeconômica; o Programa de Auxílio Financeiro, cuja finalidade é subsidiar e apoiar financeiramente a participação dos estudantes em eventos acadêmicos, políticos, científicos e culturais, a nível local, regional e nacional; o Restaurante Universitário (RU); e o plantão social que diz respeito ao acolhimento, análise e encaminhamento, interno e externo, das demandas socioeconômicas dos estudantes da UFT. (IBIDEM, s/d, p. 17)
Em princípio, podemos dizer que há uma significativa evasão dos estudantes nos Cursos estudados e certa preocupação da instituição com a questão em pauta, resta saber se as medidas adotadas são suficientes para a permanência do estudante na UFT.
EVASÃO NOS CURSOS DE ARTES/TEATRO E FILOSOFIA NA VISÃO INSTITUCIONAL
Na pesquisa que resultou este artigo foi feita a opção por entrevistas, por entender que possibilitaria uma inserção maior na visão da Gestão Superior e do Campus de Palmas sobre a evasão nos Cursos de Artes e Filosofia. As entrevistas foram realizadas com oito respondentes, sendo três da Gestão Superior UFT (GS) e cinco da Gestão do Campus de Palmas (GC) que, neste texto, são denominados como GS 01, GS 02, GS 03, GC 01, GC, 02, GC 04 e GC 05. (PAVÃO, 2014)
A Gestão Superior da UFT (GS) está relacionada a setores da universidade que atendem a UFT em todos os Campi e Gestão do Campus de Palmas (GC) a setores que atendem o Campus Universitário de Palmas.
Nota-se nas entrevistas que a evasão na UFT é um problema visível aos gestores, e que as visões destes, segundo Pavão (2014), assemelham-se, em sua maioria. Mediante os fatores apresentados pelos respondentes da Gestão Superior da UFT, observa-se que as razões que predominam são externas, contudo, quando se trata de fatores internos são os Gestores do Campus que os apresentam com maior ênfase.
Entre os fatores destacados estão as dificuldades para acompanhar os estudos em função da formação na educação básica, este foi o fator preponderante em todas as entrevistas realizadas, seguido da decisão equivocada na escolha do curso e razões socioeconômicas, ambos fatores externos, como se reflete na fala do respondente 04 da Gestão do Campus: “[...] Penso que são muitas razões [...] acho que as principais razões seriam: a dificuldade financeira [...] a outra dificuldade seria a formação anterior ao ingresso à universidade, dificuldades realmente de acompanhar as exigências acadêmicas do curso.[...]”.
Dentre as razões menos apontadas pela Gestão Superior está a infraestrutura, fator relevante na visão dos Gestores do Campus, porém, percebe-se que, diferentemente dos outros fatores, este abrange a UFT em seu conjunto. Para os entrevistados, a carência de uma estrutura adequada vai desde salas despreparadas, falta de equipamentos, falta de laboratórios, falta de espaço de convivência até a disposição dos blocos no Campus.
Quanto às causas da evasão, especificamente, nos cursos de Artes/Teatro e Filosofia, sobressaem-se os motivos internos: estrutura curricular/turno e habilitação em curso de licenciatura, como demonstra o trecho da entrevista com o respondente 01 da GC:
[...] O que nós tivemos ai [...] foi o ingresso do aluno que muitas das vezes não entendia que o curso que eles iriam entrar, era um curso com projeto diferenciado, projeto diferente, eram licenciaturas e muito dos alunos entravam com o objetivo de fazer um bacharelado, [...] ai o projeto do curso é muito claro, pra formação de professores [...]. (sic)
Conforme visto na literatura estudada, “as instituições, públicas e privadas, dão como principal razão da evasão a falta de recursos financeiros para o estudante prosseguir nos estudos” (SILVA FILHO, 2007, p. 643). Esta causa foi a segunda mais destacada e a primeira a apresentar uma solução concreta. A este respeito, o auxílio financeiro que se tem hoje na instituição está diretamente ligado a uma política de permanência na UFT praticamente resumida à Bolsa Permanência. Assim, o respondente 02 da GS afirma que: “[...] a bolsa permanência teria característica para atender: alimentação, transporte e moradia [...]”. Contudo, tal auxílio beneficia a poucos estudantes como relata o respondente 02 da GC:
[...] se agente for verificar até no próprio censo estudantil que é feito, em que mais de 60% desses alunos são da classe minoritária, o quantitativo de alunos que a gente atende atualmente na UFT é muito baixo, não chega até 5%, [...] visto que atualmente o único programa que existe efetivamente é o programa bolsa permanência, que é aquele repasse financeiro e que atende 500 alunos. [...].
Na visão da Gestão Superior a ampliação de bolsas, seria a melhor solução para os alunos do curso noturno com vulnerabilidade financeira. Nesse sentido o participante da pesquisa nº 01 da GS defende:
[...] a ampliação de bolsas, que por ser Artes um curso noturno, muitas vezes não ajuda [...] Que são alunos que dependeriam do ponto de vista financeiro da instituição, que também pode ser uma causa, precisam trabalhar a noite tá já (sic) cansado e não tem como vir, e tendo já uma opção de bolsa muitas vezes contribuiria [...].
Entretanto, segundo o participante 02 da GC, a procura por bolsa dos alunos do turno noturno ainda é baixa:
[...] o aluno do curso presencial regular ele pode está buscando a bolsa, mas [...] a busca do aluno noturno ela é menor, [...] Eu acredito que essa baixa procura rebate, [...] por ele está inserido no mercado de trabalho muitas vezes, ser pai e mãe de família e como o programa de assistência estudantil ele veta a questão do vínculo empregatício [...] então eu acredito que seja por isso a baixa procura [...].
Nota-se que a instituição reconhece o perfil do aluno noturno que recebe, porém, as políticas de assistência não os beneficiam, hoje há poucas ações concretas que auxiliem financeiramente o estudante que necessita trabalhar, há apenas possibilidade de auxílio financeiro concreto. Nesse aspecto, o respondente 02 da GS afirmou:
[...] a gente tem buscado a possibilidade de ampliação do PNAES, do recurso do PNAES, com a possibilidade de ampliação nós pretendemos lançar sim outras modalidades de auxílio, que a gente tá lançando agora auxílio alimentação, e vai manter a bolsa, futuramente a gente pode lançar o auxílio transporte e o auxílio moradia pra quem não tem bolsa permanência. [...].
Percebe-se que estes auxílios individuais não estão atrelados a uma atividade de pesquisa, ensino ou extensão. A falta dessas atividades foi apontada como causa de evasão da instituição. Sobre a necessidade de se integrar auxílio e formação o respondente 05 da GC afirmou:
[...] evasão assim no sentido de que o aluno não fica por conta dessas questões mesmo de, socioeconômicas (sic), de uma política realmente de assistência e quando fala de assistência não é o assistencialismo, é a que pode permitir o aluno, que ele permaneça na universidade, mas com qualidade né, não é um mero auxilio, mas acho que essa assistência deveria estar acoplada a essa formação do aluno [...].
Como já foi explicitada a evasão nos dois cursos foco de estudo está também ligada à estrutura curricular do curso e à habilitação. Falando especificamente da estrutura curricular, os gestores relataram que um dos motivos de descontentamento e possível evasão seja o chamado ciclo básico. Dessa forma, para respondente 03 da GC:
[...] a própria estruturação dos cursos do Reuni, principalmente Filosofia e Artes, dois cursos que não tem uma base comum pode trazer um descontentamento pra aqueles alunos que começam o curso, a gente já fez algumas atividades com os primeiros períodos [...] e os alunos verbalizam isso [...].
De acordo com a literatura estudada os primeiros períodos são os que provocam maior impacto no discente devido a várias questões didático-pedagógicas, entre elas a falta de interação entre professor e aluno, que também é mencionados como resultado do ciclo básico dos cursos de Artes/Teatro e Filosofia:
[...] os cursos possuem esse ciclo básico, núcleo comum, e esse núcleo comum, às vezes deixa de lado a especificidade de cada curso, às vezes o aluno não se identifica e por este distanciamento que o aluno fica do professor (sic) pelo fato de todas as aulas serem (sic) com muita gente em sala [...]. (Respondente 04 da GC)
A gestão destaca ainda, conforme o respondente 4 da GC, que apesar de ser válido para a formação, a construção curricular em ciclos não tem contribuído para amenizar a evasão nos cursos foco de estudo.
[...] eu acho que essa construção ela tem contribuído muito para a formação dos alunos, todos os alunos que chegam ao final do curso, trazem reflexões que nos levam a crer nisso, [...] agora para evasão não contribui, acho que, pelo contrário, infelizmente, como fica muito concentrada essas questões mais gerais, às vezes questões teóricas complexas e tal no início, às vezes torna um choque muito grande pro estudante ter que vencer isso quase como uma barreira, se torna quase uma peneira os que conseguem sobreviver a isso tem a oportunidade de entrar no resto do curso [...]. (Respondente 04 da GC)
Ressaltamos, entretanto, que na primeira turma do Curso de Filosofia, objeto deste estudo, o maior número de evasão não ocorreu nos três primeiros semestres, período em que dura o ciclo básico, como aponta Pavão (2014).
É importante ressaltar que há uma preocupação, tanto dos colegiados dos cursos, como da Gestão Superior da instituição, em compreender este ciclo básico, como demonstra a fala do respondente 01 da GS: “[...] a discussão do projeto pedagógico ela é apoiada e incentivada pela universidade, a questão dos ciclos dentro dos cursos de Artes e Filosofia essa discussão ela tem sido feita também com a gestão [...]”.
Corroborando esta visão, o respondente 01 da GC destaca ainda o papel dos colegiados dos cursos no combate a evasão e a necessidade de se fazer um diagnóstico, oriundo de uma discussão realizada pelos colegiados.
[...] É, eu acho que o primeiro grande trabalho que precisa ser feito pra combater essa evasão é pensar num diagnóstico, [...] e não tem outra pessoa física ou jurídica que possa fazer isso senão o colegiado dos dois cursos. A primeira preocupação tem que vir de dentro do colegiado, o colegiado tem que entender quais são exatamente esses motivos, e o que ele pode fazer internamente para manter esse aluno. É o colegiado que recebe o aluno, os 40 alunos, e é o colegiado que vê esses alunos se perderem ao longo dos oito períodos [...].
Pelo visto a gestão dos cursos e a gestão superior não tem um diagnóstico do problema em estudo. A este respeito o respondente 02 da GS esclarece:
[...] Me parece que a gestão superior da universidade [...] não tem um diagnóstico, porque não me parece, e eu não quero tá enganada (sic), é que não se tem essa discussão a nível de colegiado [...] É preciso ter diagnósticos, o que é Arte dentro da UFT? E ai uma gestão superior não dá conta de responder, se não tiver esse diagnóstico [...]
Além das discussões a nível de colegiado, a gestão do Campus de Palmas trás como alternativa para amenizar a evasão nos referidos cursos, mudar a visão externas destes:
[...] o não entendimento do aluno ingressante, que tá lá no ensino médio, o que está lá externo à universidade do que é o curso de Filosofia, do que é o curso de Artes na UFT. Talvez o [...] que tem que ser feito, pelo próprio colegiado e pela universidade é apresentar o quê que é esse curso para a sociedade [...]. (Respondente 01 GC)
Mediante a pesquisa empírica realizada, o que se percebe são ações tímidas com relação à evasão, pois os programas de assistência são escassos e não existe um diagnóstico geral e/ou específico sobre tal fenômeno. Pelas respostas dos participantes da pesquisa parece não existir discussões sistemáticas entre os setores da Gestão Superior e do Campus a respeito desta realidade, e, consequentemente, mecanismos de combate à evasão discente que, embora tenha como fatores elementos externos, explicita, claramente, um conjunto significante de fatores internos de competência institucional. O que não parece ser a saída, para tanto, é a promoção da culpabilização do outro, pois o problema é da instituição em seu conjunto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente artigo procuramos explicitar, por meio de pesquisa bibliográfica e de campo, a compreensão existente sobre a evasão no Brasil; apresentar, sinteticamente, a partir de pesquisa documental, dados gerais sobre a evasão no Brasil e na UFT, particularmente nos Cursos de Licenciaturas em Artes/Teatro e Filosofia; e compreender a percepção da instituição sobre a evasão em pauta.
A pesquisa de campo revelou que a visão institucional sobre a evasão se assemelha em grande parte; nota-se que não há um estudo da instituição a respeito da evasão além de dados quantitativos. Apesar da instituição possuir a média quantitativa geral e específica da evasão, a Gestão Superior e os Colegiados dos Cursos de Artes/Teatro e Filosofia não possuem um diagnóstico das causas e, até o presente momento, não estão sistematicamente trabalhando nesse sentido, com exceção de apontamentos pontuais no âmbito dos colegiados.
Sobre as causas apontadas, nota-se que os fatores externos se sobrepõem aos internos na visão institucional. Segundo os gestores da UFT, os estudantes evadem porque não estão preparados financeira e educacionalmente para uma educação de nível superior. Não é perceptível a preocupação de que, apesar do déficit na Educação Básica, o estudante ao adentrar na instituição, necessite de mecanismos que amenizem as causas deste fenômeno.
É notável também o distanciamento existente entre a Gestão Superior e a Gestão do Campus. A GS se apresenta como planejadora de política e a GC como executor de ações. Assim, segundo os GC, este tem-se visto como “[...] mero executor da política [...].” (Respondente 02 da GC) Para estes as políticas já chegam prontas no Campus/Cursos, não havendo uma discussão prévia ou elaboração conjunta das políticas.
A evasão dentro da UFT é vista como um problema relativamente novo, apesar de também atingir instituições brasileiras centenárias. Devido a isso, as ações são tímidas, os mecanismos existentes, apesar de serem extremamente benéficos a esse combate, são comuns em outras instituições, não havendo uma discussão específica sobre causas e soluções da evasão no âmbito da UFT.
O estudo da evasão é, sobretudo, minucioso e complexo, principalmente quando se trata de uma universidade nova como a UFT, com dificuldades ainda não compreendidas por seus gestores, devido a isso há uma necessidade de aprofundamento do estudo. A este respeito, os dados apresentados já foram retomados no âmbito do grupo de estudo Práxis para uma análise mais robusta tendo em vista o aprofundamento dos conhecimentos acerca da evasão na UFT, especialmente nos Cursos de Licenciaturas em Artes/Teatro e Filosofia.
REFERÊNCIAS
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